Título: DOM TOMÁS: PT SE PARECE COM PMDB
Autor:
Fonte: O Globo, 02/03/2005, O País, p. 9

Insatisfeito com o que chamou de falta de empenho do governo Luiz Inácio Lula da Silva para assentar sem-terra, o presidente da Comissão Pastoral da Terra (CPT), dom Tomás Balduíno, disse estar decepcionado com o PT. Em entrevista ao programa ¿Roda Viva¿, da TV Cultura, o bispo acusou parte do PT de ter se corrompido pelas alianças que fez para dar sustentação política ao governo:

¿ O envolvimento nas diversas alianças acaba nivelando tudo. Em relação ao Congresso, por exemplo, há uma decepção grande por parte da população e o pessoal chega a dizer que não há mais diferença entre o PT e o PMDB ou outro partido.

Dom Tomás mencionou até a disposição de parte dos petistas de abandonar a legenda por causa dos rumos que o governo vem tomando:

¿ Tem um lado do PT que espera que ele (o partido) não se corrompa pelo poder. Há alguns que até queriam deixar (o partido), mas refletindo bem não quiseram jogar fora 30 anos de investimento e história.

No programa, o bispo voltou a acusar o governo de executar o programa de reforma agrária com lentidão, mas evitou aderir às críticas feitas pelo Comitê Indigenista Missionário (Cimi) ao governo Lula. Na semana passada, o Cimi divulgou nota dizendo que Lula tinha abandonado o ¿discurso enganoso¿ de amigo da causa indígena.

Mesmo não tendo canal direto com Lula ¿ na última semana tentou ser recebido pelo presidente, mas só conseguiu falar com o secretário-geral Luiz Dulci ¿ dom Tomás centrou as críticas ao agronegócio. O bispo acusou grandes fazendeiros de estimularem a violência no campo e provocarem mortes como a da freira Dorothy Stang.

CPT não quer transformar governo Lula em adversário

O cuidado de dom Tomás em não exagerar nas críticas tem um motivo. Na avaliação da CPT, não seria produtivo transformar Lula e seu governo em adversários. Se engrossar as críticas, a CPT acredita que abrirá espaço para os aliados dos ruralistas se aproximarem mais do governo.

Dom Tomás insistiu que é a favor da desapropriação de terras produtivas para a reforma agrária. Ressalvou, no entanto, que neste momento isso ainda não é necessário porque ainda há muita terra sem titulação e improdutiva que pode ser aproveitada. O bispo voltou a defender a desapropriação de terras onde for flagrado o trabalho escravo e a limitação do tamanho das propriedades rurais.

O bispo sinalizou ser favorável à interrupção da gravidez em caso de feto sem cérebro, mas seguiu a orientação da Igreja ao dizer que neste assunto o princípio a ser levado em consideração é ¿o valor à vida¿.