Título: Em 2005, analistas prevêem expansão menor
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Fonte: O Globo, 02/03/2005, Economia, p. 27

Depois do resultado recorde de 2004, a economia brasileira deve caminhar a passos mais lentos este ano. Economistas e analistas de mercado prevêem uma expansão entre 3,5% e 4% do Produto Interno Bruto (PIB). Os dados apresentados ontem pelo IBGE já mostram uma acomodação no último trimestre do ano passado, quando a expansão foi de apenas 0,4% frente ao período imediatamente anterior, na série com ajuste sazonal. No terceiro trimestre, a alta havia sido bem maior, de 1,1%.

O crescimento mais moderado da economia mundial será um freio na expansão do Brasil, na opinião do economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Armando Castelar. Ele cita ainda a alta do petróleo e gargalos na capacidade produtivas interna como complicadores.

¿ Parte do crescimento em 2004 veio da folga na capacidade produtiva. Há setores que estão no limite. É preciso investir nas estradas e no setor elétrico, os recentes apagões mostram isso ¿ disse Castelar, que projeta uma alta entre 3,8% a 4% este ano

Alta de juros será outro obstáculo este ano

A alta de juros ¿ a taxa básica subiu de 16% em agosto para 18,75% em fevereiro ¿ será outro obstáculo para que o país consiga expansão semelhante a de 2004, na opinião do economista.

Com o resultado previsto para 2005, o Brasil não conseguirá subir no ranking das maiores economias do mundo. Deve permanecer na 12ª posição, ou descer para 13ª , dependendo do comportamento do câmbio. Alex Agostini, da GRC Visão:

¿ Estamos praticamente empatados com a Austrália em 2005. Se o dólar se desvalorizar frente ao real, o Brasil pode até subir mais posições.

Em 2004, o Brasil conseguiu ultrapassar a Coréia do Sul, que tinha conquistado a 12ª posição em 2003, depois da estagnação de 0,5% do Brasil.

Mas o otimismo permanece, pelo menos nos Estados Unidos. O Tesouro Nacional divulgou ontem uma pesquisa com 500 grandes empresas americanas que têm investimentos no país. O trabalho mostra que 68% das entrevistadas acreditam que o PIB do Brasil vai crescer entre 3,5% e 5,5% nos próximos 12 meses. A maior parte dessas empresas também acredita que essas taxas podem ser mantidas em 2006 e 2007.

Os empresários estão ainda mais otimistas quando se considera o crescimento de seus próprios negócios no mercado brasileiro. A maioria ¿ 39% ¿ acredita que sua empresa vai crescer cerca de 5,5% ou mais este ano. Outros 27% esperam um crescimento entre 3,5% e 5,5% em 2005.

Pesquisa mostra expectativas de inflação dentro da meta

As expectativas positivas também aparecem quando se pergunta se os planos de investimento direto das empresas no Brasil vão mudar em 2005 na comparação com 2004. Segundo o Tesouro, 35% não vão mudar os planos de investimentos, enquanto outros 35% vão mudar levemente.

Os empresários esperam que a inflação fique dentro das metas do governo brasileiro para 2005. Na pesquisa, 66% dos entrevistados prevêem que o índice fique entre 5% e 7% este ano. A meta central do governo era de 4,5%, mas já foi ajustada para 5,1%.

Entre os temas que mais podem afetar os negócios das 500 empresas americanas estão as reformas tributária e trabalhista. Os empresários também apontam como uma questão importante o marco regulatório da área de infra-estrutura e a proteção à propriedade intelectual.

A preocupação com a pirataria também aparece na pesquisa. Entre os entrevistados, mais de 50% acreditam que esse tipo de irregularidade reduz suas vendas no Brasil. A estimativa de perda de receita varia de 10% a 50%. Apenas 38% acreditam que a pirataria não afeta seus negócios no país.