Título: NÉSTOR KIRCHNER: `SAÍMOS DA MORATÓRIA¿
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Fonte: O Globo, 02/03/2005, Economia, p. 29

O presidente da Argentina, Néstor Kirchner, disse ontem que o país não está mais em moratória de sua dívida soberana ¿ o maior calote da história recente ¿ após o sucesso da operação de troca de US$102,6 bilhões da dívida.

¿ Completamos o processo de reestruturação da dívida esses dias. Com esse enorme esforço, nosso país deixou para trás a moratória ¿ disse Kirchner em sessão inaugural do Congresso para 2005, acrescentando que o governo apresentará amanhã os resultados consolidados da reestruturação.

Três anos após declarar a moratória da dívida, a Argentina ofereceu a troca de US$81,8 bilhões de dívida velha e mais os juros vencidos por até US$41,8 bilhões em novos bônus. A oferta de seis semanas foi encerrada na última sexta-feira em tom de otimismo.

Apesar das perdas para investidores acima de 70% na troca ¿ também um recorde para reestruturação de dívida ¿ analistas prevêem que a taxa de aceitação ficará entre 70% a 80%. Esse nível seria suficiente para a Argentina declarar sucesso em sua reestruturação e para buscar o amparo dos países do G-7 (os sete países mais industrializados do mundo) e do Fundo Monetário Internacional (FMI) para um eventual retorno ao mercado de crédito internacional.

¿ Pela primeira vez na história da Argentina, uma reestruturação de débito culminou com uma drástica redução da dívida do país ¿ disse Kirchner.

Ele disse ainda ao Congresso que seu governo trabalhará para levantar outro grande obstáculo ao investimento: a renegociação dos contratos de empresas de serviços públicos. As tarifas estão congeladas há três anos e as companhias alegam que as receitas são insuficientes para manter os investimentos.

Apenas 27,8% dos credores italianos aderiram ao plano

Apesar do otimismo de Kirchner, um grupo representante de credores da dívida argentina disse ontem que apenas 27,8% dos investidores italianos aderiram à troca proposta pela Argentina. O Grupo Força-Tarefa Argentina (TFA, na sigla em inglês) disse ainda que os italianos donos de títulos de dívida ainda têm em mãos papéis no valor de US$8 bilhões, de um total de US$14,5 bilhões.