Título: DECRETADO SEQÜESTRO DOS BENS DO DONO DO SANTOS
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Fonte: O Globo, 02/03/2005, Economia, p. 33

A 6ª Vara da Justiça Federal em São Paulo determinou ontem o seqüestro dos bens de Edemar Cid Ferreira, dono do Banco Santos, que está sob intervenção do Banco Central (BC) desde 12 de novembro do ano passado. O Ministério Público Federal (MPF) e a Polícia Federal cumpriram o mandado de busca e apreensão da Justiça na casa do empresário, no Morumbi, na Zona Sul de São Paulo. Segundo o MPF, os bens não podem ser vendidos, mas não foram retirados da casa e permanecerão sob a guarda do banqueiro.

Um depósito de obras de arte, que pertence a Edemar e fica no bairro do Jaguaré, na Zona Oeste da capital, foi lacrado com todo o seu conteúdo. Segundo informações do MPF, as obras de arte foram avaliadas entre R$20 milhões e R$30 milhões e a casa, em R$50 milhões.

Peritos especialistas em arte deverão fazer um inventário. A PF apreendeu na residência nove computadores, R$70 mil e US$4 mil em dinheiro, uma barra de ouro e cheques, alguns emitidos no exterior. Outros seis computadores foram apreendidos no depósito.

Para o procurador da República, Silvio Luís Martins Oliveira, há fortes indícios de gestão fraudulenta e lavagem de dinheiro no Santos. Segundo ele, vários documentos foram apreendidos na casa de Edemar. O rombo deixado pelo banco é estimado em R$1 bilhão. Caso as fraudes sejam comprovadas e o banqueiro, condenado, os bens apreendidos poderão ser repassados à União para que o rombo seja coberto. Oliveira afirmou que o Santos teria desviado pelo menos R$300 milhões do R$1,5 bilhão que recebeu do BNDES para emprestar a empresas. A instituição era uma das maiores repassadoras de recursos do banco estatal.

O MPF e a Polícia Federal também foram, sem sucesso, à empresa Rutherford Trading, na Rua Amaury, Zona Sul de São Paulo, que seria uma ponte para envio de recursos do Banco Santos ao Bank of Europe, que tem sede em Antígua e Barbados e seria controlado pelo ex-assessor do Ministério do Desenvolvimento Renello Parrini. A instituição seria uma das usadas pelo dono do Banco Santos para captar recursos no exterior. Quando o Santos sofreu intervenção do BC, o Bank of Europe teria ficado insolvente.

O procurador disse que Edemar trocou e-mails com instituições estrangeiras depois da intervenção e esses documentos mostrariam a arquitetura das movimentações financeiras. O procurador afirmou que a empresa foi fechada há 15 dias e, por isso, os policiais não puderam entrar.

¿ O próximo passo é o pedido de quebra do sigilo bancário dos envolvidos. Há indícios, ainda não suficientes para que seja oferecida uma denúncia, de que houve gestão fraudulenta no Banco Santos. Não é apenas uma questão de temeridade de empréstimo de dinheiro sem o devido cuidado, mas uma fraude. Pode ter ocorrido lavagem de dinheiro. E alguns dos bens, como a casa no Morumbi e as obras de arte, podem ter sido adquiridos com esse dinheiro ¿ disse Oliveira.

Também foi instaurado um inquérito policial, que será conduzido pela Delegacia de Crimes contra o Sistema Financeiro em São Paulo e tem 120 dias para ser concluído.