Título: Passo atrás
Autor:
Fonte: O Globo, 03/03/2005, Nossa Opinião, p. 6

Centro de intenso e produtivo debate, a proposta do governo de reforma universitária pode ser contestada pela sua oportunidade. Pois antes de se tratar do ensino superior, as gritantes deficiências do ciclo médio reclamam tratamento urgente e prioritário. Mas esta é uma das deficiências menos graves do projeto.

Há vários pontos preocupantes na proposta do Ministério da Educação, praticamente todos derivados da perniciosa influência de corporações universitárias e dos ditos movimentos sociais na redação do projeto. A visão ideológica por trás do diagnóstico feito do setor e que inspira as mudanças sugeridas é a mesma da qual emergiu o projeto da Ancinav e fundamentou a decisão do governo de apoiar a criação do Conselho Federal de Jornalismo.

Autoritário e dirigista, o projeto original é preconceituoso contra o ensino privado, xenófobo - Harvard e Oxford estarão proibidos de se instalar no Brasil - e permite a infiltração na administração da Universidade de interesses corporativos e de organizações políticas e sociais. Uma reforma universitária que atrai o apoio do MST e da CUT merece ser analisada com atenção.

O controle sobre o ensino superior será exercido por conselhos, com representantes de sindicatos e agrupamentos políticos. O sistema de eleição direta, inadequado para a Universidade, passará a ser usado sem parcimônia.

E assim serão soterradas as esperanças de que o ensino superior brasileiro seja balizado pela meritocracia e constitua um pólo de excelência acadêmica, como ocorre nos países em desenvolvimento concorrentes do Brasil.