Título: Corações aflitos
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 05/03/2005, Panorama Político, p. 2

Começou a reforma ministerial. Muita gente suando frio na Esplanada, temendo a queda. Muita gente com o coração aos saltos no Congresso, na expectativa do convite de Lula. Estes últimos têm pelo menos uma certeza: a reforma deve contemplar igualmente deputados e senadores, já que seu objetivo é quase que exclusivamente político: recosturar a esgarçada coalizão governista.

O presidente Lula não só age com mais reserva, restringindo os interlocutores, como também despista os especuladores emitindo sinais contrários. Vem conseguindo assim controlar os vazamentos que levam aos fatos consumados.

A equação da reforma é partidária, e até segunda-feira, serão feitas novas conversas e avaliações com o PMDB, o PP e o PTB, partidos que precisam ser melhor integrados ao governo. Mas levando também em conta as necessidades do governo nas duas Casas do Congresso.

Os dois senadores mais cotados são Romero Jucá, do PMDB, e Roseana Sarney, licenciada do PFL. Dificilmente os dois deixarão de entrar na equipe de Lula, embora não haja ainda decisão sobre as pastas que ocuparão. Romero, cotado para a Previdência, representa o grupo que subiu com a ascensão de Renan Calheiros à presidência do Senado. E tem a simpatia, se não o apoio, do líder do governo, Aloizio Mercadante. Roseana não entraria na cota do PMDB e sim na do grupo de Sarney, mas dará no mesmo. O destino dela é o PMDB.

Na Câmara, o imperativo é acomodar o PP do deputado Severino Cavalcanti. Difícil está para o governo fixar-se em um nome, o que favorece o deputado Pedro Henry.

Mudança de que se fala destinada a melhorar a gestão é apenas a da Saúde. E demissões, Lula evitará ao máximo. A tão falada cota do PT gaúcho, por exemplo, deve continuar a mesma, de quatro pastas. Lula estaria satisfeito com o trabalho de Tarso Genro na Educação e com o de Dilma Rousseff, tida como de sua cota pessoal, em Minas e Energia. Rossetto, da Reforma Agrária, representa a esquerda petista no governo. Se dos quatro tirasse apenas Olívio, pensaria o presidente, acabaria por desqualificá-lo junto ao partido e ao eleitorado do estado.

Vai sobrando então para o ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini, a cota de sacrifício do PT. Ele deveria ter saído na última reforma, quando ocupava a Previdência. Jaques Wagner, então no Trabalho, recusara o convite para a secretaria executiva do CDES (Conselhão). Berzoini seria então devolvido à Câmara. Para socorrer o companheiro, ainda chamuscado pelo caso do recadastramento dos aposentados idosos, Wagner acabou aceitando a nova pasta, cedendo-lhe a do Trabalho.

Mas mesmo perdendo só uma pasta, o que a reforma sinaliza é o avanço dos aliados sobre o latifúndio do PT, em grande parte por conta de seus erros.