Título: A PUNIÇÃO DO FUNDADOR
Autor: Ricardo Galhardo e Adriana Vasconcelos
Fonte: O Globo, 05/03/2005, O País, p. 3

PT pede pena leve para o deputado Virgílio Guimarães: suspensão por um ano

A executiva nacional do PT decidiu ontem dar uma punição mais branda ao deputado Virgílio Guimarães (MG), que desafiou a direção partidária e se lançou candidato avulso à presidência da Câmara, ajudando a derrotar o candidato oficial do partido, Luiz Eduardo Greenhalgh. A executiva aprovou apenas a suspensão de Virgílio do partido por um ano. Com isso, o deputado, que é fundador do PT, não poderá representar o partido participando de comissões da Câmara, mas ficará livre para disputar as eleições do ano que vem como petista. A decisão depende de confirmação do diretório nacional do PT, que deve se reunir no início de maio.

Segundo amigos, Virgílio reagiu com surpresa e alívio. Se a punição fosse maior ¿ cogitava-se uma suspensão de um ano e meio ¿ o deputado seria forçado a sair do partido para disputar a eleição de 2006. A própria direção nacional do PT admitiu que a pena é branda. Durante a suspensão, Virgílio ficará proibido de representar o partido em comissões, participar das decisões partidárias ou se candidatar a cargos de direção no Processo de Eleições Diretas (PED).

¿ Gostaria que Virgílio entendesse isso como um gesto brando da direção ¿ disse o secretário-geral do PT, Sílvio Pereira.

Até ontem de manhã, o próprio Pereira defendia punição de no mínimo um ano e meio e muitos petistas falavam até em expulsão. Se a pena fosse de um ano e meio, Virgílio não teria condições legais de disputar a eleição de 2006 pelo PT porque o prazo de inscrição vai até o fim de maio e o deputado estaria suspenso até outubro.

Pereira: `Decidimos estender a mão¿

Segundo o secretário-geral, o PT de Minas Gerais, o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha, os líderes do PT e do governo na Câmara, Paulo Rocha e Professor Luizinho, e o líder do partido no Senado, Delcídio Amaral, procuraram a direção partidária nas últimas 48 horas apelando por uma solução conciliadora.

¿ Se déssemos uma punição que o impedisse de disputar a eleição, poderia parecer uma expulsão branca, camuflada. Virgílio é uma pessoa muito querida no PT por sua história política e pessoal. Por isso decidimos lhe estender a mão ¿ disse Pereira.

Convidado a participar da reunião de ontem, o deputado mineiro não apareceu. Acompanhou a reunião por telefone, de Minas. Depois da decisão, o segundo vice-presidente do PT, Romênio Pereira, mineiro e da mesma corrente de Virgílio, o Movimento PT, telefonou para comunicar a punição.

¿ Disse a ele que é o momento de baixar a bola. Ele reagiu com surpresa, pois achou que a suspensão não seria de apenas um ano. Tinha várias posições muito duras que iam de dois anos até a expulsão. Ele ficou um pouco aliviado ¿ disse Romênio.

O resultado da votação foi 14 votos pela suspensão de um ano, dois pela expulsão (Walter Pomar e Marlene Rocha, da esquerda petista) e duas abstenções. Pesou no abrandamento da punição a forte pressão do PT de Minas. Anteontem, um grupo de dirigentes se reuniu com a cúpula nacional para pedir a redução da pena. Além de ter dois ministros ¿ Patrus Ananias, do Desenvolvimento Social, e Luiz Dulci, da Secretaria Geral da Presidência ¿ o estado se destacou na eleição do ano passado com a vitória no primeiro turno de Fernando Pimentel para a prefeitura de Belo Horizonte.

A saída de Virgílio poderia levar a uma divisão no PT mineiro. O deputado tem base eleitoral sólida e recebeu convites de outros partidos, como o PSDB do governador Aécio Neves. Na semana passada, a direção nacional transferiu a comemoração de 25 anos do PT de Belo Horizonte para Recife, temendo manifestações de militantes ligados a Virgílio.

¿ Não queremos esgarçar mais as relações com o PT mineiro ¿ disse Sílvio Pereira.

O presidente nacional do PT, José Genoino, lembrou que a decisão final sobre o caso Virgílio caberá ao diretório nacional. Genoino espera que até lá o deputado mude de atitude e pare de atacar o partido.

¿ O PT quer que o deputado, na prática, nas suas manifestações políticas, dê sinais concretos de qual relação quer com o partido. O PT está sendo paciente, extremamente democrático e generoso ao não fechar todas as portas ¿ disse Genoino.

Virgílio: `Vou apontar equívocos¿

Virgílio disse que espera derrubar a punição na reunião do diretório nacional. Na sua avaliação, ao optar pela punição mais branda, a executiva sinalizou que o partido está aberto ao diálogo. Virgílio está sendo julgado por ter desafiado o partido, lançando sua candidatura avulsa à presidência da Câmara contra o candidato Greenhalgh (PT-SP), que acabou derrotado por Severino Cavalcanti (PP-PE).

¿ Vou mostrar na reunião do diretório nacional que não cometi qualquer delito, pois a candidatura avulsa é legítima. Tanto que o PT deu seu apoio à candidatura avulsa do César Bandeira (PFL-MA), que disputou a primeira-vice-presidência da Câmara com o candidato oficial do PFL, José Thomaz Nono (AL) ¿ argumentou Virgílio.

Na sua defesa, Virgílio adiantou que não poupará a direção do PT, especialmente o presidente José Genoino, principal avalista da candidatura de Greenhalgh.

¿ Não pretendo brigar com ninguém, mas na minha defesa vou apontar os equívocos do partido na condução de sua candidatura à presidência da Câmara ¿ disse.

Fundador do PT em Minas, o deputado lembra que nunca foi filiado a qualquer outro partido e disse que não cogita a possibilidade de deixar a legenda.

¿ O diretório nacional vai rever esse indicativo de punição recomendado pela executiva nacional. Mesmo porque a executiva optou pela punição mais branda. Esse é um indicativo claro do desejo de diálogo. O primado é o do diálogo ¿ acrescentou.