Título: REFORMA: DIRCEU E MERCADANTE FAZEM CONSULTAS
Autor: Gerson Camarotti e Lydia Medeiros
Fonte: O Globo, 05/03/2005, O País, p. 5

'O problema é que está faltando cadeira para tanta demanda'

BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva designou ontem o chefe da Casa Civil, José Dirceu, e o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), para iniciar consultas aos partidos da base aliada para que possa anunciar a reforma ministerial. A expectativa de Lula é concluir as mudanças até o fim da semana que vem.

Ontem, Lula tratou do assunto em reuniões reservadas, mas não bateu martelo sobre as mudanças. A reforma será feita para acomodar aliados, principalmente o PP e o PMDB.

- O momento é de tentar achar uma solução para a demanda dos partidos. Temos que fechar a equação. O problema é que está faltando cadeira para tanta demanda - disse Mercadante.

No cenário imaginado por Lula está o fortalecimento do PMDB com um ministério mais forte. Lula estuda a possibilidade de transferir o ministro Ciro Gomes (Integração Nacional) para a Saúde. Com isso, poderia abrigar o PMDB. O PP poderia ficar com o Ministério das Comunicações, caso o ministro Eunício Oliveira fosse transferido para a Integração Nacional. Já o ministro Ricardo Berzoini (Trabalho) está sendo visto por Lula como um curinga. Tanto pode ir para o Planejamento como para o comando do Banco do Brasil.

PP quer a diretoria de comercialização da BR

O PMDB já fez chegar ao Palácio do Planalto que não admite perder cargos e vai brigar, especialmente com o PP do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PE). Os governistas do PMDB levantaram os cargos importantes do governo e concluíram que muitos postos são controlados pelo PT ou pelo PP.

O partido de Severino cobiça dois cargos: a diretoria de abastecimento da Petrobras, que tem volume gigantesco de compras; e a diretoria de comercialização da BR Distribuidora, classificada como "estupenda" no meio político, pois movimenta cerca de R$500 milhões por dia, segundo peemedebistas.

O PMDB tem a presidência da Transpetro, ocupada pelo ex-senador Sérgio Machado (CE). Mas a pressão para tirá-lo do cargo é grande, até no partido. Esses postos, vinculados ao Ministério das Minas e Energia, elevam a cotação da pasta, hoje com o PT.

O líder da bancada do Senado, Ney Suassuna (PB), diz que o momento é de expectativa. E citou Romário para defender a prioridade do PMDB nas escolhas do presidente Lula: quem acabou de chegar não pode se sentar na janela, disse, numa referência ao PP.

Mercadante reiterou que o objetivo da reforma ministerial é montar um governo de coalizão, com participação das bancadas que têm responsabilidade no Congresso.