Título: EUA: PROTEÇÃO DE FRONTEIRAS NO BRASIL É FRÁGIL
Autor: José Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 05/03/2005, O País, p. 13

Relatório do governo americano aponta país como corredor de drogas

WASHINGTON. O governo dos EUA deixou claro ontem que tem duas preocupações com o Brasil em relação ao combate ao narcotráfico e à lavagem de dinheiro. Uma delas é a frágil proteção das fronteiras com os países andinos, pelas quais a pasta de coca tem sido contrabandeada para ser transformada em cocaína em laboratórios no território brasileiro. A outra diz respeito ao fato de não haver leis que tratem como crime o financiamento do terrorismo.

Os dois pontos constam do informe sobre a Estratégia Internacional de Controle de Narcóticos, divulgado ontem pelo Departamento de Estado:

- É preciso considerar que há uma convergência cada dia maior entre contrabando, tráfico, lavagem de dinheiro e terrorismo - diz o secretário assistente do Birô para Assuntos de Narcóticos Internacionais e Aplicação da Lei, Robert B. Charles.

O Brasil é destacado com um pequeno grupo de países em três categorias: a que relaciona os maiores corredores de trânsito para drogas, a que aponta as maiores fontes de produtos químicos para o tráfico, e a que indica as maiores lavanderias de dinheiro obtido ilegalmente. No entanto, o documento ressalta que "a presença de um país nessas listas não reflete necessariamente que seu governo não esteja fazendo esforços contra (o tráfico) e nem reflete seu grau de cooperação com os EUA".

Informe destaca cooperação do Brasil com EUA

Nesse ponto o informe é muito claro em relação ao Brasil: "A cooperação bilateral (Brasil-EUA) na luta contra os narcóticos nunca foi tão boa quanto agora". Ainda assim, o texto diz que há "indícios de que laboratórios estão funcionando no Brasil para processar coca e cocaína parcialmente processada e contrabandeada da Colômbia, do Peru e da Bolívia". E, mais adiante, descreve como "a principal fragilidade do regime contra a lavagem de dinheiro no Brasil" a falta de uma legislação que trate como crime o financiamento do terrorismo.

Nesse aspecto há uma preocupação específica: "O governo do Brasil insiste em que não há provas de financiamento de terroristas na área da Tríplice Fronteira (Brasil-Argentina-Paraguai). Porém, os EUA continuam preocupados com o fato de essa região não ter uma firme aplicação de controles de cambio e nem a exigência de registros de cruzamento da fronteira, numa área que é suspeita de ser fonte de financiamento para terroristas". Trata-se de uma referência ao fato de que em meio à grande comunidade árabe da região haveria, segundo autoridades americanas, pessoas encarregadas de coletar contribuições e usar dinheiro obtido em contrabando para enviar a terroristas no Oriente Médio.