Título: DAQUI EU NÃO SAIO..
Autor: Helena Chagas
Fonte: O Globo, 07/03/2005, O País, p. 4

Reformas ministeriais costumam ser cercadas de expectativa, mas raramente produzem grande coisa no plano administrativo. Não adianta: por mais que o Planalto tente dourar a pílula com o discurso da eficiência, estamos diante de mais uma recauchutagem eminentemente política. Se conseguir recompor a base parlamentar e amarrar alianças para 2006, Lula já deve se dar por satisfeito.

Mesmo isso não é fácil. Afinal, ainda que prevaleçam as razões e circunstâncias presidenciais ¿ como sói acontecer nos sistemas presidencialistas ¿ essas operações mexem com os interesses mais diversos, nem sempre explícitos. A Esplanada dos Ministérios é um emaranhado de projetos políticos individuais, e a maioria de seus inquilinos só se diferencia num ponto: uns têm planos mais imediatos, enquanto outra turma conta com a reeleição de Lula e mira 2010. Em comum, o sentimento: ninguém quer sair agora:

¿ Quero ficar no Ministério para ser governador : É o caso da ampla maioria dos políticos da equipe, incluindo aí o ministro da Saúde, Humberto Costa (Pernambuco), que nesta reforma parece ser a bola da vez. Além dele, sonham com a candidatura em 2006 os ministros da Educação, Tarso Genro (RS), do Meio Ambiente, Marina Silva (AC), do CDES, Jaques Wagner (BA), das Comunicações, Eunício Oliveira (CE) e dos Transportes, Alfredo Nascimento (AM). Também nas listas de degoláveis, Amir Lando (RO), da Previdência, e Olívio Dutra (RS), das Cidades, também têm aspirações para 2006. Bem se vê que, se Lula seguir a sugestão da cúpula do PT e adotar esse critério para as demissões, não sobra quase ninguém.

¿ Unidos brigaremos, na Esplanada ou no Congresso: É o caso de dois importantes petistas pré-candidatos ao governo de São Paulo: Aloizio Mercadante e João Paulo Cunha. Lula não quer ser acusado de favorecer ninguém. Se um for para o Ministério, o outro também será convidado. A pasta alvo de João Paulo é a Coordenação Política, mas não se sabe se seu partido conseguirá derrubar Aldo Rebelo. A Mercadante pode ser oferecida a Saúde, num movimento semelhante ao de Fernando Henrique com Serra no governo passado. O mais provável é que nenhum dos dois vire ministro e que a briga continue na planície.

¿ O sonho do vice: Se há hoje um ministro seguro na Esplanada é o vice José Alencar. Mas abandona tudo pela candidatura a governador de Minas em 2006. Lula e o PT apóiam.

¿ Os que sonham virar vice: Como um lugar desses não fica vago, os aliados já dão cotoveladas pela vaga na chapa de Lula. Se o parceiro for o PTB, pode ser Walfrido Mares Guia. Se for o PMDB, a briga é boa: já se falou em Roseana Sarney e até em Nélson Jobim, mas quem agora entra no páreo cheio de vontade é o novo presidente do Senado, Renan Calheiros.

¿ Não sou candidato, mas se o cavalo passar selado... O projeto político do alagoano Aldo Rebelo sempre foi renovar seu mandato de deputado pelo PCdoB de São Paulo. A movimentação de Renan para ser vice de Lula, porém, pode deixar as forças governistas em Alagoas sem candidato a governador. É aí que Aldo entra na conversa, que inclui sua permanência na Esplanada até ano que vem ¿ embora não necessariamente no Planalto.

¿ Os neopolíticos também sonham: Dizem que Henrique Meirelles só pensa naquilo: o governo de Goiás em 2006. Já estaria se articulando com o PTB e deve enfrentar sua hora da verdade em outubro, quando acaba o prazo de filiação partidária para os candidatos. Se, de um lado, no Planalto, alguns afirmam que presidentes do BC não podem pensar em política e nem em eleição, outros adorariam vê-lo pelas costas sem conflitos. Outro que estaria se entusiasmando com as urnas seria o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues. Por enquanto, deputado.

¿ Esperando a hora chegar: É o caso do curinga Ciro Gomes. Não gostaria de sair da Integração Nacional, onde comanda a maior obra do governo Lula, a transposição do São Francisco. Mas, se Lula precisar dele na Saúde ou na Previdência, vai. Na verdade, Ciro aposta na reeleição de Lula e quer esperar em local confortável o tempo passar até 2010, quando deve tentar nova candidatura a presidente. Gostaria de ser o herdeiro de Lula, mas esse é um sonho quase impossível para quem não é petista de nascença.

¿ 2010, uma odisséia no PT: A reeleição ainda é dúvida e muita água ainda há de rolar, mas já começou a briga de foice entre petistas pela candidatura em 2010. Onde? Na Esplanada. Quem? Antônio Palocci e José Dirceu.