Título: Indústria a todo o vapor
Autor:
Fonte: O Globo, 07/03/2005, Economia, p. 17

Produtividade cresceu 6% no ano passado, ajudando a manter os preços estáveis

Ocrescimento de 5,2% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2004 veio acompanhado de um aumento de 6% na produtividade da indústria brasileira. Segundo o estudo ¿Produtividade Industrial, Emprego e Salário em 2004: A Retomada do Ciclo de Crescimento?¿, feito pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), essa maior eficiência das empresas no ano passado foi obtida graças a investimentos para atender à demanda do mercado interno e, na maioria das vezes, resultou no aumento das horas trabalhadas e da mão-de-obra.

O estudo, que utiliza dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que a produção da indústria cresceu 8,3% em 2004, enquanto o nível de pessoal ocupado e as horas pagas subiram 1,9% e 2,2%, respectivamente. Segundo o diretor-executivo do Iedi, Júlio Gomes de Almeida, outro resultado positivo foi o fato de que o aumento da produtividade permitiu que as empresas mantivessem seus preços relativamente estáveis:

¿ O aumento de produtividade permite que as empresa absorvam eventuais aumentos de custos e, com isso, reduzam as pressões sobre os preços e sobre a inflação ¿ disse.

Os números do Iedi confirmam o que o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, vinha defendendo há alguns meses: que a indústria acumulava ganhos de produtividade e, por isso, seria possível reduzir a margem de erro da meta de inflação.

Em alguns setores, houve demissões

O estudo do Iedi destaca que, de 18 setores analisados, 14 tiveram aumento de produtividade no ano passado. A área de alimentos e bebidas, por exemplo, registrou um crescimento de eficiência de 1,7% em 2004, contra uma queda de 4,5% em 2003. Já o setor químico teve um aumento de produtividade de 4,2% no ano passado, contra 3,5% no ano anterior.

Esses dois estão entre os oito setores que elevaram a produtividade com melhoria das condições para os trabalhadores. No caso de bebidas e alimentos, a produção subiu 4,5% e as horas pagas, 2,7%. Para o setor químico, a produção cresceu 6% e as horas pagas, 1,7%.

¿ Esse é o aumento de produtividade ideal: empresas e trabalhadores ganham ¿ diz Almeida.

Segundo o vice-presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), Guilherme de Moraes, o setor vem buscando aumentar sua produtividade desde o início dos anos 90:

¿ As importações vêm subindo a cada ano, o que mostra que há demanda por produtos químicos e que o setor merece investimentos ¿ disse.

O Iedi destaca ainda que outros seis setores, como têxtil, vestuário e papel, tiveram aumento de produtividade com queda na jornada de trabalho. Segundo Júlio Almeida, esse movimento ocorreu devido à racionalização do trabalho ¿ as empresas tiveram ganhos porque elevaram a produção mas fizeram demissões.

O setor têxtil, por exemplo, teve crescimento de produtividade de 10,9% em 2004, sendo que as horas pagas caíram 0,7%. Segundo o superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), Fernando Pimentel, os investimentos feitos pelo setor em 2004 subiram 39% em relação a 2003, sendo que o volume de recursos chegou a mais de US$1 bilhão por ano nos últimos dez anos. Ele reconhece, no entanto, que os ganhos de produtividade provocaram demissões nas empresas.

Segundo o professor de política e economia da Unicamp Márcio Pochmann, quando a atividade econômica está desaquecida, as empresas demitem funcionários. Mas quando a demanda volta a crescer, elas tendem a ser mais cautelosas e evitam novas contratações. O professor destaca, no entanto, que essa situação pode ser temporária:

¿ A partir do momento em que a economia crescer de forma sustentada, é natural que haja uma retomada do emprego porque a indústria tende a investir mais.