Título: BRASIL MOSTRARÁ PREJUÍZOS COM SUBSÍDIOS À OMC
Autor: Eliane Oliveira
Fonte: O Globo, 07/03/2005, Economia, p. 19

Somente com a soja, país deixará de vender US$1 bilhão

BRASÍLIA. O Itamaraty e o Ministério da Agricultura estão prontos para uma nova ação na OMC. Mas técnicos ligados à área afirmam que todo o cuidado é pouco: é preciso mostrar que os subsídios domésticos são uma forma velada de subsidiar as exportações americanas e provar que há danos causados pela depressão dos preços internacionais.

O governo está atuando, então, em duas frentes: uma, na área de contenciosos, buscando soluções na OMC; e outra, na rodada de negociações realizada no âmbito do organismo, em que os países desenvolvidos terão de se comprometer a reduzir os subsídios.

¿ Espera-se que os americanos coloquem sobre a mesa uma proposta satisfatória. O mundo inteiro espera isso dos EUA ¿ reforça Marcos Jank, presidente do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Ícone),

Para Jank, os subsídios ao algodão podem subir de US$1,4 bilhão em 2004 para US$4,8 bilhões em 2005. No caso do milho, o volume deve sair de US$2,3 bilhões para US$7,5 bilhões. Os gastos com soja aumentariam de US$610 milhões para US$1,5 bilhão, podendo ser de US$3,2 bilhões em 2006.

¿ A soja, sozinha, é responsável por quase 10% da pauta de exportações brasileiras ¿ destaca Jank.

Brasil, EUA e Argentina: os gigantes da soja

Para o coordenador do Departamento de Contenciosos do Itamaraty, Roberto Azevedo, vários fatores devem ser observados nessa discussão. Ele destaca as condições do mercado internacional e a participação dos EUA e do Brasil nesse comércio. Brasileiros, americanos e argentinos são os maiores exportadores de soja do mundo.

A estimativa da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) é de que, apenas no caso da soja, o Brasil deixará de vender em torno de US$1 bilhão este ano no mercado mundial. O produto está com a cotação cerca de 40% mais baixa no exterior. Quanto ao arroz e ao milho, a CNA considera que, como o Brasil não é grande exportador, a prioridade será mesmo para a soja.

¿ Esses subsídios fazem com que os americanos produzam cada vez mais soja, jogando o produto no mercado internacional ¿ diz o diretor da área internacional da CNA, Donizete Beraldo.

Subsídios saltam de US$10 bi para US$20 bi

Jank lembra que, em 2002, os EUA dobraram os subsídios, com a revisão da lei agrícola. O orçamento anual pulou de US$10 bilhões para US$20 bilhões. Este ano, os recursos chegarão a US$24 bilhões:

¿ Não dá para retaliar os EUA. O Brasil requer investimentos e a participação no comércio mundial é de 1%.