Título: BANCOS ABREM LINHAS DE CRÉDITO PARA ANTECIPAÇÃO DA RESTITUIÇÃO DO IR
Autor:
Fonte: O Globo, 07/03/2005, Economia, p. 20

Para ter acesso ao empréstimo, investidor paga taxas de até 51% ao ano

Foi dada a largada para a declaração do Imposto de Renda (IR) 2005 e, na esteira do acerto de contas com o Leão, os principais bancos brasileiros lançaram, na semana passada, as já tradicionais linhas de antecipação do crédito do IR. A taxas variam de 2,75% (caso do Banco do Brasil) a 3,50% ao mês (Bradesco) e é possível receber de 70% a 100% do valor a ser restituído. Unibanco, Bradesco, Banco do Brasil, Caixa Econômica, Mercantil do Brasil, HSBC e Nossa Caixa oferecem o produto.

Mas atenção: apesar das taxas mais baixas que as cobradas no cheque especial e no rotativo do cartão de crédito, especialistas alertam que a linha deve ser contratada apenas para trocar dívida cara por outra mais barata, afinal, é uma dívida como qualquer outra.

Taxa é inferior à do crédito pessoal, de 11,7% em média

Pagar uma taxa de 2,75% ao mês ¿ o mínimo cobrado nas linhas de antecipação de IR ¿ pode parecer pouco, mas isso corresponde a juros de 38,4% em um ano. Já a taxa máxima de 3,5% significa um juro anual de 51,1%. Apesar disso, o custo é bem mais baixo que o de outras linhas de crédito.

Segundo dados da Associação Nacional dos Executivos de Finanças e Contabilidade (Anefac), em janeiro ¿ mês do levantamento mais recente ¿ o empréstimo pessoal junto aos bancos tem uma taxa média de 6,5% ao mês, quase o dobro do cobrado na antecipação do Imposto de Renda. Já o cheque especial, o rotativo do cartão de crédito e o empréstimo nas financeiras cobram juros de 8,30%, 6,5% e 11,7% mensais.

¿ As linhas de antecipação do IR podem ser tentadoras para os consumidores, mas o empréstimo só compensa se for para quitar uma dívida mais cara. Isso porque o crédito tem uma data-limite de pagamento, que costuma ser inferior a um ano. Se até lá o cliente não receber a restituição, pode ficar com nome sujo na praça ou ser forçado a contratar um empréstimo a um custo bem mais alto ¿ esclarece Miguel Ribeiro de Oliveira, vice-presidente da Anefac.

Esse é o caso da Caixa, que espera que, em 2005, os empréstimos totalizem R$23 milhões, 30% a mais que no ano passado. O vice-presidente de Crédito, Francisco Egídio Pelucio Martins, admite que o banco refinancia o crédito a um custo mais elevado nos casos em que o cliente não tem recursos para honrar a dívida no vencimento:

¿ Mas parcelamos o valor, para dar mais prazo para o cliente quitar a dívida.

Essa não é uma opção no Banco do Brasil .

¿ O crédito não é refinanciado, mas enquanto os vencimentos costumam ocorrer em dezembro na maioria dos bancos, o nosso é em janeiro, dando mais prazo para o pagamento ¿ explica o vice-presidente de Varejo Edson Monteiro.

Recomendação é usar linha para quitar dívida mais cara

Essa foi a preocupação do contador Raulino Pereira Filho no ano passado, devido a um atraso na restituição do IR 2004, que acabou sendo paga no fim do ano. Cliente do Banco do Brasil, ele utiliza a linha há dois anos e pretende contratar um novo empréstimo em 2005:

¿ As contas no início do ano são pesadas: IPVA, IPTU e material escolar. Uso a linha, a um custo mais baixo, para quitar dívidas mais caras, como a do cheque especial. A vantagem da linha do BB é que você só recebe até 70% do valor a restituir, ou seja, após pagar o banco, ainda fica com 30% em caixa ¿ afirma o contador.

O economista Marcelo Líbero D¿Agosto, sócio da consultoria financeira Investmate, só recomenda o uso da linha em caráter emergencial, devido ao custo alto do empréstimo:

¿ Uma linha de mil reais a juros de 3,5% ao mês significam o pagamento de R$35 mensais de juros. Até dezembro, o cliente vai precisar pagar R$350, um terço do valor do empréstimo, isso sem contar a Taxa de Abertura de Crédito (TAC).

Em alguns bancos, a TAC tem custo fixo (de R$40 na Caixa Econômica), em outros, é cobrado um percentual sobre o total do empréstimo ¿ em geral, 2%.