Título: O CUSTO DA INSEGURANÇA
Autor: Flávia Oliveira/Ledice Araújo/Maria Fernanda Delma
Fonte: O Globo, 06/03/2005, Economia, p. 35

Violência pesa no balanço

Empresas como Ampla, Telemar e Light têm prejuízos e funcionários são ameaçados

Os problemas de segurança no Estado do Rio ferem também as empresas fluminenses. A violência - especialmente nas comunidades alvo de disputa entre facções criminosas - está acentuando o esvaziamento de regiões originalmente dedicadas às atividades comerciais e industriais, como os bairros do Jacaré e de São Cristóvão e as margens da Avenida Brasil. Concessionárias de serviços públicos enfrentam dificuldades para fazer instalações, reparos e interrupções de fornecimento nas chamadas áreas de risco e acumulam casos de destruição de equipamentos e ameaça a funcionários.

Na Ampla (ex-Cerj), a perda anual com roubos de cabos chega a R$1 milhão. A Telemar informa que, por mês, 7% dos 124 mil orelhões instalados no estado são depredados. A cada semana, a operadora registra 250 roubos de cabos. A Light, de janeiro a novembro de 2004, somou 1.050 episódios em que traficantes impediram funcionários de entrar em comunidades, duas destruições de cabos de linhas de transmissão por tiros e dois seqüestros. Uma semana atrás, quatro técnicos que consertavam um transformador ficaram 40 minutos nas mãos de traficantes da Mangueira. Em agosto, um empregado da Telemar foi assassinado enquanto trabalhava numa favela em São Gonçalo.

Light e Telemar: carta para Rosinha

O homicídio, entre outros crimes, foi citado numa carta que Light e Telemar enviaram à governadora Rosinha Garotinho em outubro, pedindo providências contra a violência. No documento, ao qual O GLOBO teve acesso, o presidente da Light, Jean-Pierre Bel, e o diretor-superintendente da Telemar-Rio, Silvério Baranzano, afirmam que "a violência urbana tem sido um dos principais obstáculos enfrentados por prestadores de serviços" no exercício das atividades. A Light não quis comentar o teor da carta. A Telemar disse que "o texto contém uma lacuna, que é o reconhecimento em relação aos esforços do governo no combate à violência e na atenuação das dificuldades que se encontram na execução de suas atividades".

O secretário de Segurança Pública, Marcelo Itagiba, diz que o estado tem ampliado os investimentos em inteligência e equipamentos. E cita a criação de delegacias especializadas em crimes contra os chamados serviços delegados, como energia e telefonia:

- Estamos implantando um sistema de câmeras na cidade, um centro de comando e controle, temos investido maciçamente na área de inteligência e estamos fazendo ações para reprimir cada vez mais o tráfico de entorpecentes, o grande tempero de instabilidade da cidade.

Por mês, assaltos a 11 caminhões de gás

As estatísticas da própria secretaria revelam que o número de roubos e furtos no comércio chegou a 6.163 em 2004, uma média de 17 assaltos por dia - eram 20 um ano antes. Entre julho e agosto de 2004, três equipes da Ampla foram assaltadas em Duque de Caxias.

As distribuidoras de gás de botijão penam com o roubo de carga. Por mês, no estado, 11 caminhões têm os botijões levados. O prejuízo é de R$88 mil mensais, segundo o Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Gás Liqüefeito de Petróleo (Sindigás).

O superintendente-executivo do Sindigás, Sérgio Bandeira de Mello, diz que as empresas sofrem ainda com a dificuldade de acesso ao que chamam de áreas restritas. Por isso, foram obrigadas a deixar de acompanhar a qualidade dos serviços nessas comunidades. Uma distribuidora conta que teve de aumentar o quadro de pessoal, já que só entram nas favelas entregadores autorizados pelo tráfico.

As ocorrências são tantas que as seguradoras já exigem que o cliente arque com parte do prejuízo em caso de roubo de mercadorias, como autopeças, brinquedos, tintas, roupas e calçados. Em regiões que abrigam antigos pólos industriais na capital, as empresas foram quase incorporadas pelas favelas. É o caso da GE, em Maria da Graça, e da Owens-Illinois, da Souza Cruz e de um complexo da Telemar, no Jacaré. A unidade da Telemar, que faz fronteira com a favela do Jacarezinho, no bairro, já abrigou todo o setor de almoxarifado da operadora, mas hoje mantém apenas "atividades residuais".