Título: O CUSTO DA INSEGURANÇA: LOJAS ESTÃO FECHANDO MAIS CEDO E COMERCIANTES, GASTANDO MAIS COM EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO
Autor: Flávia Oliveira/Ledice Araújo/Maria Fernanda Delma
Fonte: O Globo, 06/03/2005, Economia, p. 38

Consumidor com medo, pior inimigo do varejo

Pesquisa dos lojistas do Rio mostra que no Rio violência atrapalha mais que renda, desemprego e inflação

Atemorizados com os freqüentes casos de mortes por assaltos, tiroteios e seqüestros, os consumidores cariocas mostram-se hoje mais preocupados com a violência na cidade do que com a renda familiar, o desemprego e a inflação. O Clube de Diretores Lojistas do Rio (CDL) captou esse sentimento na pesquisa do Índice de Expectativa do Consumidor. Entre as dez variáveis analisadas, que determinam o consumo futuro, a violência na cidade é a que mais atrapalha. A variável ganhou nota 3,9 - e, numa escala de zero a dez, quanto mais perto de zero maior é pessimismo.

Consumidor está perdendo prazer de fazer compras

O indicador de violência, no entanto, registrou uma pequena recuperação desde novembro. Fernando de Mello, assessor do CDL, diz que o consumidor vem restringindo o tempo de compra, sobretudo à noite. Há queda nas vendas após as 17h, quando acaba o expediente.

- As pessoas saem às pressas e correm para as filas de ônibus ou vans para chegar rapidamente em casa - frisa.

O consultor de varejo Adão de Souza constata: o comércio, sobretudo de rua, está fechando mais cedo. O consumidor, diz ele, vem perdendo a espontaneidade de olhar vitrines e o prazer das compras após um dia de trabalho. E o comerciante ainda tem o ônus de gastar mais com segurança.

Em abril de 2004, uma guerra entre traficantes das favelas da Rocinha e do Vidigal afetou o movimento do shopping center mais sofisticado da cidade, o São Conrado Fashion Mall. Jussara Nova Raris, superintendente da In Mont, administradora do Fashion Mall, diz que houve uma perda de 40% de público nos primeiros três dias do conflito. Depois, o shopping vizinho às favelas foi recuperando o movimento. O Fashion Mall recebe cerca de 340 mil pessoas por mês. A executiva ressalta que o problema foi apenas naquele momento.

Supermercados dobraram gasto com segurança

Segundo Jussara, muitos dos empregados do shopping são da comunidade da Rocinha. O shopping faz a política da boa convivência: depois que a escola de samba Acadêmicos da Rocinha subiu para o Grupo Especial este ano, o Fashion Mall estendeu um cartaz de parabéns na fachada.

Nos supermercados, o gasto com segurança dobrou nos últimos cinco anos. As empresas investiram em circuitos de TV, equipamentos contra roubos e etiquetas de segurança. Ainda assim, as perdas com roubos e furtos subiram de 1% para 2% do faturamento do setor, beirando R$1,9 bilhão por ano.

O medo da violência ajudou o IBGE a decidir abandonar sua sede no pé do Morro de Mangueira, devolvida à União. Destino idêntico teve a fábrica da Kibon, uma área de 24 mil metros quadrados vizinha ao instituto, desativada em 1999. A empresa diz que deixou o local para concentrar a produção em São Paulo e Recife. A área foi doada à comunidade, e abriga o Centro Cultural Cartola.