Título: Cerca de um terço dos índios vive em regiões de conflito
Autor: Bernardo de la Peña
Fonte: O Globo, 06/03/2005, O País, p. 8

Tribos enfrentam litígios com madeireiros, fazendeiros e garimpeiros

BRASÍLIA. Dos 430 mil índios brasileiros, quase um terço vive em áreas de conflito. Pelas estimativas da Fundação Nacional do Índio (Funai), são 130 mil pessoas que moram em 50 áreas que ainda estão sendo demarcadas ou identificadas e que, por isso, estão em litígio com madeireiros, fazendeiros e garimpeiros.

Os principais focos de tensão estão nas regiões próximas das fronteiras agrícolas, como o estado de Mato Grosso do Sul e a região oeste de Santa Catarina, perto do município de Chapecó. Os problemas nas reservas catarinenses são com os índios kaingang e guaranis. No Pará, numa região próxima do lugar onde o conflito com grileiros culminou no assassinato da missionária americana Dorothy Stang, no dia 12 de fevereiro, a situação também é tensa.

- É gente que já está dentro e não quer sair e gente que está fora e quer entrar. É onde há maior risco de haver confronto - diz o presidente da Funai, Mércio Pereira Gomes.

No MS, 15 áreas de disputa

Apenas em Mato Grosso do Sul, de acordo com o mapa da Funai, há 15 áreas de conflito. Segundo Gomes, são pequenas terras - entre 500 e 1.200 hectares - que estão sendo recuperadas pelos índios. No estado, vivem 32.519 índios. Os que estão mais envolvidos em confrontos são os guaranis e os terenas. O problema na região é que os fazendeiros, instalados na mesma terra que os índios, entram em confronto com uma grande concentração demográfica indígena, que espera pelo processo de identificação e demarcação das terras.

Nas duas reservas, Jaguaripu e Bororó, próximas ao município de Dourados, onde morreram sete crianças índias desnutridas, vivem cerca de 12 mil índios em 3.450 hectares. Apenas para se ter uma idéia da concentração, se a área fosse destinada à reforma agrária, pelas contas de Gomes, nela não caberiam mil famílias. Na reserva do Xingu, por exemplo, 2,8 milhões de hectares são ocupados por cerca de 5 mil índios.

Proteção ao meio ambiente

As 600 reservas indígenas que existem hoje no país representam 12% do território brasileiro, incluindo as demarcadas ou em fase final de demarcação. Da Amazônia, representam 22% ou 1 milhão de quilômetros quadrados dos 4,8 milhões de quilômetros quadrados da região.

- Uma terra indígena é uma garantia de proteção do meio ambiente na Amazônia - diz Gomes.

Nessas 600 áreas, das quais 500 já estão demarcadas, vivem 220 etnias. Embora cem reservas ainda estejam em processo de regularização, são as 50 onde há disputa por terras com fazendeiros, madeireiros ou garimpeiros que estão ameaçadas por confrontos entre índios e posseiros. O presidente da Funai acredita, entretanto, que não são as reservas que prejudicam a agricultura, mas o contrário:

- As fronteiras agrícolas é que estão se expandindo e chegando lá. Os ambientalistas, no caso da Amazônia, têm medo da derrubada de florestas. Do ponto de vista indigenista, vejo com receio. Não é a área indígena que está na zona de expansão. A zona de expansão é que está chegando nas áreas indígenas.