Título: SEVERINO JÁ TOMA CUIDADO COM O BAIXO CLERO
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Fonte: O Globo, 06/03/2005, O País, p. 16
Após desgaste, presidente da Câmara se aconselha com parlamentares influentes como Delfim e Dornelles
BRASÍLIA. Nestes 20 primeiros dias de poder, o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), abriu as portas de seu gabinete. Se por um lado deixa à mostra que são muitos os que tentam convencê-lo de que poderão ser seus melhores conselheiros, por outro revela que já começou a perceber, depois do desgaste com a proposta de reajustar os subsídios dos deputados, que terá que agir com mais cautela e evitar armadilhas montadas por aliados do baixo clero ou do núcleo dirigente do PP, que tendem a defender pleitos corporativistas e fisiológicos.
Para escapar disso, Severino, que já foi chamado de "rei do baixo clero", tem tentado se aconselhar com parlamentares experientes e influentes como dois companheiros do PP que ele considera seus ídolos e a quem recorre quando precisa de auxílio em questões econômicas ou de política: os ex-ministros Francisco Dornelles (RJ) e Delfim Netto (SP).
Também parece mais preocupado com a opinião pública e já admite pôr em discussão projeto sobre o casamento de homossexuais, prometendo atuar como um juiz, embora seja contrário à proposta.
Sob pressão das reivindicações corporativas do baixo clero, Severino despontou na mídia de forma mais negativa do que já se apresentava, insistindo no aumento de subsídios e propondo mais espaço para seu partido no governo.
O que poderia ser um aspecto positivo de seu mandato até agora, uma maior independência em relação ao governo, acabou encoberto pelas notícias negativas. É esse perfil independente que assessores e outros conselheiros, principalmente da oposição, querem ressaltar. Cautela e prudência são as palavras pregadas por esse grupo.
Grupo no qual se inclui o líder do PFL, Rodrigo Maia (RJ). Para ele, Severino já está mostrando que poderá surpreender positivamente. Ele cita o fato de o presidente ter desengavetado a Lei de Biossegurança e ter posto em pauta a proposta de emenda paralela da Previdência e a reforma tributária. Projetos que, segundo Rodrigo Maia, numa gestão petista continuariam fora da ordem do dia.
Divergência com os aliados sobre ida a Pernambuco
Severino chegou a aceitar, mas, depois, desistiu do Sucatão
BRASÍLIA. Um primeiro exemplo de que Severino poderá não se dobrar aos desejos e sugestões de seus aliados do baixo clero foi a viagem deste fim de semana a Pernambuco. O presidente do PP, Pedro Corrêa (PE), por conta própria, organizou toda a festa para a recepção a Severino e ainda pediu à Presidência que cedesse o Sucatão para transportar o presidente da Câmara e mais 40 deputados. Severino chegou a concordar, mas bastou um alerta de assessores sobre o escândalo que isso significaria para mandar cancelar o avião da FAB.
A surpresa da eleição e o pouco tempo de mandato não produziram ainda a formação de um grupo restrito de conselheiros. Além de assessores antigos, o filho José Maurício também exerce grande influência sobre Severino.
Mas é grande também a participação ostensiva do comando do PP na gestão de Severino: Pedro Corrêa (PE), Ricardo Fiúza (PE), José Janene (PR), João Pizzolatti (SC) e Mário Negromonte (BA) agem em conjunto para, com a força da máquina partidária, tentar convencê-lo a aprovar todos os pleitos e interesses do partido. Para isso, paparicam o presidente da Câmara o tempo todo: bancam suas viagens, carregam-no para eventos país afora e o apóiam nas questões polêmicas.
- Corrêa está tirando proveito partidário. Ele agora tem uma estrela e quer apresentá-la ao país - diz o deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP).
Petebista já arrancou promessa de Severino
O petebista já conseguiu um tento: arrancou de Severino a promessa de que incluiria a PEC paralela da Previdência na pauta de votações. Aprovada pelo Senado em 2004 como condição para o aval à reforma da Previdência, essa emenda estava parada na Câmara porque não interessava ao governo.
O grupo de deputados que apostou em sua campanha desde o início e o ajudou na articulação tem espaço garantido: Ciro Nogueira (PP-PI), Benedito Dias (PP-AP), Irapuã Teixeira (PP-SP) e Ricardo Barros (PP-PR) têm grande crédito com Severino e o auxiliam na estratégia política para a negociação das votações, tentando colar nele a marca da independência.
Do baixíssimo clero são muitos os amigos, todos têm acesso ao gabinete e são os que levam Severino a atitudes de desgaste, como o aumento do subsídio. Deste grupo se sobressaem o quarto-secretário, João Caldas (PL-AL), e Robson Tuma (PFL-SP). Estão sempre na cola do presidente, mas não exercem influência.