Título: LULA DIZ QUE NÃO CEDE AO JOGO DO PP
Autor: Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 09/03/2005, O País, p. 5

Presidente estaria irritado com exigência de pasta com 'porteira fechada'

BRASÍLIA. Irritado com as pressões do PP para emplacar dois nomes na reforma ministerial, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem a interlocutores que não vai ceder ao que chamou de jogo do partido aliado. Lula reagiu à cobrança dos líderes do partido e chegou a demonstrar impaciência ao tratar do PP. O partido exige um ministério com "porteira fechada", ou seja, com todos os principais cargos da pasta. Para um petista, Lula chegou a afirmar que todas as negociações têm limite e que não iria se desmoralizar por causa de exigências do PP.

- Não vou sair com a imagem arranhada dessa reforma ministerial. Tudo tem limite! - desabafou Lula numa conversa com um petista.

Ontem à noite, Lula chamou os ministros José Dirceu (Casa Civil), Antonio Palocci (Fazenda), Jaques Wagner (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social) e Luiz Gushiken (Comunicação de Governo), e o líder do governo, senador Aloizio Mercadante (PT-SP), para uma reunião na Granja do Torto. Segundo assessores, ele queria discutir os cenários da reforma ministerial. A cúpula do PP ainda se reuniria com Dirceu.

PP esperou arquivamento do pedido de processo do PSDB

Mercadante, em conversa com o deputado Delfim Netto (PP-SP), adiantou o estado de espírito do presidente. Lula mandou avisar que não dará um ministério de "porteira fechada" para o PP. No Planalto, a avaliação é que o compromisso de Lula é contemplar o novo presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), que tem hoje poder real no partido.

Os deputados Pedro Corrêa (PE), presidente do PP, e José Janene (PR), líder da bancada, são os negociadores oficiais da reforma ministerial. Para evitar constrangimento maior nas negociações, a cúpula do partido decidiu esperar Severino Cavalcanti arquivar o pedido de processo do PSDB contra Lula por crime de responsabilidade.

Segundo Janene, era preciso resolver isso para evitar a idéia de que o partido estaria chantageando o presidente. Ele disse que vai reunirá a bancada para discutir a proposta do governo.

- Como podíamos negociar a reforma ministerial com um abacaxi no colo do presidente Severino? Primeiro o governo tem que dizer o que deseja oferecer ao PP. Depois reuniremos a bancada - disse Janene.

"Tivemos prejuízo com o Ministério do Trabalho"

Ontem, emissários do PP fizeram chegar novamente ao Planalto o interesse no Ministério das Comunicações, mas com o controle dos Correios e da Anatel. Janene descartou a possibilidade do partido aceitar o Ministério do Trabalho.

- Já tivemos muito prejuízo com o Ministério do Trabalho no passado. O PT é que tem que assumir o ônus de fazer as reformas sindical e trabalhista - avisou Janene.

- Até agora, tudo é especulação. Ninguém sabe o que vai ser a reforma ministerial. Eu estou à disposição do presidente Lula. Mas nunca tratei desse assunto com ele - disse ontem o ministro Ciro Gomes (Integração Nacional), cotado para assumir a Saúde no lugar do petista Humberto Costa.

Ao chegar ao Senado, Ciro ouviu brincadeiras de alguns parlamentares sobre sua eventual mudança no governo.

- Como vai a saúde? - perguntou o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE).