Título: ALDO DÁ SINAIS DE IRRITAÇÃO E CRITICA BNDES E CEF
Autor: Luiza Damé
Fonte: O Globo, 09/03/2005, O País, p. 8

Com o PT querendo seu cargo, ministro da Coordenação Política faz discurso inflamado durante marcha de prefeitos

BRASÍLIA. A demora na reforma ministerial está deixando ministros com os nervos à flor da pele. Criticado por setores do PT e apontado como um dos demissionários, o ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo (PCdoB), abandonou ontem seu estilo calmo ao discursar na marcha dos prefeitos e fazer críticas a programas do governo. No auge da irritação, Aldo se dirigiu com rispidez ao vice-governador do Rio, Luiz Paulo Conde, que pedia o fim de seu discurso. Um pouco antes, ao chegar ao encontro, Rebelo admitira que sua paciência tem limite, referindo-se às pressões petistas para que deixe o cargo:

- Governar é administrar pressões, desafios, reivindicações, críticas da imprensa, perguntas inteligentes. Quem não estiver disposto a responder às perguntas, a compreender as críticas da oposição e da imprensa e a administrar as reivindicações e pressões da própria base não deve ficar. Acompanho e enfrento com naturalidade e com espírito público, naturalmente até onde for possível.

Para o ministro, as pressões petistas são como as bruxas do ditado espanhol: ninguém acredita nelas, mas que existem, existem. No discurso, Aldo criticou os critérios adotados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e pela Caixa Econômica Federal (CEF) para financiar projetos dos municípios. Para ele, as regras prejudicam municípios pobres.

Aos gritos, Rebelo rebatia críticas dos governadores peemedebistas do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, e de Santa Catarina, Luiz Henrique da Silveira, que cobraram mudanças na divisão de recursos públicos entre União, estados e municípios:

- Município pobre do Nordeste, porque não tem limite de endividamento, porque não tem doutores da USP, não consegue empréstimo do BNDES. Estados e municípios ricos conseguem. Quando você trata desiguais de forma igual, você acaba reproduzindo a injustiça.

Após rispidez, pedido de perdão

Logo em seguida, Rebelo reagiu, com visível irritação, ao pedido de Conde para que encerrasse o discurso:

- Vou encerrar, governador. E espero que minhas palavras não o estejam incomodando.

Ao concluir o discurso, o ministro pediu perdão a Conde. O vice-governador começou seu discurso dizendo, em tom de ironia, que Aldo parecia um ministro de oposição.

Outro que participou da marcha de prefeitos e se mostrou incomodado com perguntas sobre reforma foi o ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes. Inicialmente, ele brincou com os jornalistas sobre sua possível ida para o Ministério da Saúde.

- Vou para a Integração - respondeu. E acrescentou: - Minha saúde está boa, apesar do hábito de fumar.

Mas acabou irritado com a demora do carro oficial, o que o deixou à mercê dos jornalistas.

- Vou pedir um táxi! - gritou para o assessor de imprensa.

O ministro das Cidades, Olívio Dutra, também na lista de possíveis demitidos, afirmou que não pediu o cargo, mas que se sente honrado de ter sido convidado a integrar a equipe do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ao deixar a marcha de prefeitos, Olívio afirmou que Lula não deu sinais ainda de que poderá substituí-lo, nem mudou a relação com a pasta:

- Reforma ministerial não é pauta de ministro. Não tenho me envolvido nisso. Não participo de reunião do PT sobre isso. Até agora, nem por gesto nem por palavra, o presidente fez qualquer consideração que sintonize com a série de especulações que eu leio e ouço por aí.

Legenda da foto: ALDO REBELO, na chegada ao encontro com prefeitos, rodeado de jornalistas: "Quem não estiver disposto a administrar as reivindicações e pressões da própria base não deve ficar"