Título: HILDEBRANDO, DE ALGEMAS, CHORA E NEGA HOMICÍDIO
Autor: Rodrigo Rangel
Fonte: O Globo, 09/03/2005, O País, p. 11

Acusado da morte de policial, ex-deputado chega a confessar irregularidades no julgamento, que só deve acabar sexta

BRASÍLIA. No primeiro dia do julgamento em que é acusado de mandar matar um policial civil no Acre, o ex-deputado federal Hildebrando Pascoal chorou e recorreu a frases de efeito para negar seu envolvimento com grupos de extermínio. Ele chegou ao tribunal carregando pastas repletas de documentos e pediu autorização à juíza Maria de Fátima Pessoa, da 10ª Vara Federal de Brasília, para retirar as algemas. Os procuradores protestaram e o pedido foi negado. Hildebrando só pôde ficar sem algemas no intervalo.

Hildebrando, cassado em 1999 e preso desde então, afirmou ser vítima de perseguição e acusou o procurador da República Luiz Francisco de Souza e o desembargador aposentado Gercino José da Silva Filho de inventarem as denúncias que o apontam como chefe de um esquadrão da morte que teria feito dezenas de vítimas no Acre nos anos 90:

- Eles promoveram uma verdadeira campanha publicitária para me caluniar e me difamar. Com isso criaram os fatos de que necessitavam para detonar a odiosa e infame perseguição a mim e a minha família. Transformaram-me num mostro.

Ex-deputado admite conhecer demais réus

Mesmo tendo negado participação em homicídios, Hildebrando admitiu conhecer a maioria dos acusados que, com ele, respondem pelo assassinato do policial Walter Ayala, em 1997. Por conta própria, até revelou irregularidades que cometera enquanto deputado estadual. Disse, por exemplo, que o sargento Alex Fernandes Barros, acusado de tramar a execução de Ayala, estava, na época, à disposição de seu gabinete na Assembléia Legislativa do Acre, mas não trabalhava.

Já sobre Raimundo Alves de Oliveira, acusado de matar Ayala, Hildebrando disse ter conhecido quando foi a Brasília comprar um carro. Por indicação de um primo que era comandante da PM, convidou Raimundo para dirigir o veículo. A ida foi de avião, com passagem paga pelo governo do Acre, segundo o ex-deputado. O julgamento só deve acabar na sexta-feira. Dos seis acusados do crime, dois serão julgados à parte, no dia 15.

Legenda da foto: HILDEBRANDO, COM as pastas, ao chegar ao tribunal sob escolta da PF