Título: INDÚSTRIA TEM RITMO MENOR, MAS EMPREGA MAIS
Autor: Eliane Oliveira/Aguinaldo
Fonte: O Globo, 09/03/2005, Economia, p. 23

CNI afirma que recuo de 1,97% nas vendas do setor em janeiro não altera expectativa otimista a longo prazo

BRASÍLIA e SÃO PAULO. O setor industrial brasileiro iniciou 2005 com queda no faturamento, porém contratando mais trabalhadores, o que indica otimismo no longo prazo. Segundo os Indicadores Industriais divulgados ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), em janeiro as vendas reais caíram 1,97% em relação a dezembro de 2004, já descontados fatores sazonais, mostrando que o ritmo da economia, que começou a cair no quarto trimestre do ano passado, está se arrefecendo. Já o pessoal empregado cresceu 0,27% e a massa salarial subiu 0,18% sobre o mês anterior.

- O arrefecimento da atividade industrial entre o fim do ano passado e início de 2005 não alterou as perspectivas positivas de longo prazo dos empresários, já que o mercado de trabalho continua dando sinais positivos - disse o coordenador da Unidade de Pesquisa, Avaliação e Desenvolvimento da CNI, Renato da Fonseca.

Palocci rebate críticas e defende juros e câmbio

Na comparação com janeiro de 2004, as vendas reais cresceram 3,13%. A CNI ressalta que o emprego cresce há 13 meses seguidos e acumula expansão de 7,3% no período. Mas o ritmo de abertura de vagas está em queda. No terceiro trimestre de 2004 a contratação subia 0,9% ao mês; no trimestre seguinte, 0,4%; e em janeiro de 2005, só 0,27% em relação a dezembro.

Segundo os economistas da CNI, o ajuste do ritmo de crescimento de vendas e horas trabalhadas, que aumentaram a taxas expressivas em 2004, é uma das causas do arrefecimento industrial do início de 2005. A entidade aponta também a manutenção da política monetária restritiva: desde setembro de 2004, quando começou a alta dos juros, o faturamento industrial acumula queda de 4,2%.

Ministro: "Política monetária provocou um aperto"

Fonseca lembrou, ainda, do efeito cambial. Com o real mais valorizado em relação ao dólar, as empresas exportadoras deixaram de faturar em reais. Porém, disse Fonseca, as exportações mantêm sua performance, a despeito do câmbio.

- Se os juros continuarem altos, essa queda do ritmo da atividade industrial vai gerar taxas negativas - alertou Paulo Mol, economista da CNI.

Desde o quarto trimestre de 2004, a utilização da capacidade instalada e as horas trabalhadas começaram a cair e continuaram no início do ano. Em janeiro, o uso da capacidade foi de 82,4%, contra 82,9% em dezembro. Já as horas trabalhadas na produção caíram 2,05% sobre dezembro.

Além disso, o aumento da massa real de salários também cedeu em janeiro: cresceu só 0,18% frente a dezembro. Porém, a renda dos trabalhadores sobe há quase dois anos.

Em São Paulo, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, minimizou os sinais de desaquecimento da economia neste início do ano e reafirmou sua confiança no sucesso da política monetária. Segundo Palocci, é normal a oscilação no ritmo de crescimento.

- Nenhum processo de crescimento se dá de maneira linear. O importante é que o crescimento industrial tem sido recorde e os investimentos cresceram em 2004 o dobro da renda - disse Palocci, após participar de seminário sobre o setor de turismo no país.

Para o ministro, esses resultados refletem o acerto da política de juros, apesar de "um aperto" inicial.

- A política monetária provocou um aperto, não escondemos isso. Mas não há mal pior para o crescimento do que a inflação. Respeito as demandas que não compreendem a política monetária, mas acredito que estamos no caminho certo - disse ele.

O ministro rebateu as críticas de setores industriais à forte queda do dólar frente ao real. Ele repetiu que o governo não pretende interferir na cotação da moeda americana.

- O diabo do câmbio flutuante é que flutua. Às vezes, favorecendo determinado segmento da sociedade, às vezes favorecendo outros. Não podemos atender a todas as demandas ao mesmo tempo.