Título: IPEA VÊ EXPANSÃO MENOR E JURO MAIOR
Autor: Cássia Almeida
Fonte: O Globo, 09/03/2005, Economia, p. 23

Instituto aposta ainda em inflação mais baixa. Já exportação crescerá 10,2%

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revisou para baixo o desempenho da economia este ano. A expansão do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto das riquezas produzidas no país) será de 3,5%, taxa inferior aos 3,8% previstos em dezembro último, conforme o "Boletim de Conjuntura" divulgado ontem pelo instituto.

Três fatores explicam essa mudança nas estimativas: expansão menor que a prevista pelo Ipea no último trimestre do ano passado - a projeção era de 0,7% e a economia cresceu 0,4% frente ao trimestre anterior - os juros mais altos e a valorização do real frente ao dólar:

- A política monetária mais apertada e a apreciação do câmbio, que tem um efeito contracionista, levaram-nos a rever as previsões - explicou Paulo Levy, diretor de Estudos Macroeconômicos do Ipea.

A aceleração da inflação no fim de 2004 fez mudar a previsão para a taxa básica de juros Selic, no fim deste ano. Em dezembro, o boletim dizia que a Selic, hoje em 18,75%, ficaria em 16% ao ano. Essa projeção subiu para 17,4%.

Com isso, a inflação vai recuar. A expectativa para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechado de 2005 baixou de 5,6% para 5,4%:

- A desvalorização ajudará a segurar os preços. Esse efeito já aparece na queda do Índice de Preços por Atacado (IPA industrial, medido pela Fundação Getúlio Vargas) - afirma o diretor do Ipea.

Levy afirma que a Selic deve subir mais 0,25 ponto percentual na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) na semana que vem, passando para 19% ao ano:

- E só deve começar a cair em agosto.

Em dezembro, o instituto fora mais otimista: acreditava que os juros baixariam a partir do segundo trimestre.

As exportações foram um dos indicadores a sofrer a revisão mais forte e para cima. A projeção de alta das vendas externas subiu de 5,1% em dezembro passado para 10,2%.

- Esperávamos uma queda nas exportações no início do ano. O que não aconteceu, pelo contrário - disse Levy.

Instituto receita superávit fiscal maior e reformas

Além de mudar as projeções, o Ipea chamou a atenção para reformas que considera necessárias para manter o crescimento da economia. Para diminuir a dívida pública, Levy defende que o superávit primário (receita menos despesas antes do pagamento de juros) seja maior que os 4,25% fixados como meta para o governo, embora não indique qual seria a taxa adequada.

O instituto também defende a desvinculação do salário-mínimo do piso previdenciário, a autonomia do Banco Central, a redução gradual da CPMF e a extensão da desvinculação das receitas da União.