Título: Gastos são desproporcionais a serviços prestados
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Fonte: O Globo, 12/03/2005, O País, p. 5
Economistas e representantes do setor produtivo criticam aumento de despesas públicas e, ao mesmo tempo, de impostos
SÃO PAULO. A confirmação de que o governo elevou a carga tributária de 34,88% em 2003 para 35,45% no ano passado e, ao mesmo tempo, aumentou gastos públicos, levou economistas e representantes do setor produtivo a reagirem com indignação. Em encontro com representantes do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, anteontem, os ministros José Dirceu (Casa Civil) e Antonio Palocci (Fazenda) disseram que investimentos na área social e compromissos fiscais justificam o crescimento do bolo tributário.
¿ Os gastos do governo são desproporcionais aos serviços prestados. Além disso, pelo que é recolhido de impostos, é inadmissível tamanha baixa eficiência da máquina do Estado ¿ disse o diretor titular do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Francine, para quem a carga tributária anunciada por Dirceu é elevadíssima.
Ainda assim, diz ele, o setor industrial imaginava um crescimento no volume de impostos ainda maior do que o anunciado, em torno de 37%.
Especialista diz que governo erra na política de juros
Nessa mesma linha, o diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Julio de Almeida, fez severas críticas à condução da política econômica do atual governo. Segundo ele, o governo estaria, sob justificativa de proteger a área social, errando no planejamento de gastos e também no encaminhamento da política de juros.
¿ O governo aumentou a carga tributária de forma autônoma em relação aos gastos. Normalmente, é o contrário. O aumento dos gastos é que eleva a necessidade do aumento de receitas. Além disso, o ônus dessa política deveria recair menos sobre o setor produtivo. É preciso reduzir a taxa de juros ¿ diz Almeida.
Para ele, a justificativa do governo de maior investimentos em infra-estrutura não corresponde à realidade.
¿ Há tempos que o programa de investimentos em infra-estrutura é carente. Faltam investimentos relevantes.
O economista Luiz Gonzaga Beluzzo diz que o governo está constrangido pelas metas de manutenção do superávit primário, da carga tributária e de despesas vinculadas ao orçamento.
¿ Isso tudo impede a liberdade para definir os gastos.
Para o economista, o Estado tem obrigações com a sociedade.
¿ O governo precisa oferecer boa saúde, boa educação e boa infra-estrutura. Mas, para isso, precisa tributar. Acontece que deve ser analisada qual a eficiência do gasto com o serviço prestado. E isso no Brasil, historicamente, não é muito bom.