Título: JUIZ QUE MATOU SEGURANÇA ACOLHEU PISTOLEIRO
Autor: Isabela Martin
Fonte: O Globo, 12/03/2005, O País, p. 18
Deputado pede que Justiça investigue ligação de Pedro Pecy com um dos mais conhecidos matadores de aluguel do Nordeste
FORTALEZA. A corregedoria do Tribunal de Justiça do Ceará (TJ) recebeu um pedido para que investigue as ligações do juiz Pedro Pecy Barbosa Araújo ¿ acusado do assassinato do funcionário de um supermercado em Sobral, ocorrido há duas semanas ¿ com o pistoleiro Ildefonso Maia Cunha, o Mainha, um dos mais conhecidos matadores de aluguel do Nordeste, apontado como autor de mais de 80 mortes.
A solicitação foi encaminhada pelo deputado estadual Francisco Cavalcante (PSDB) depois de ter apurado que, em 2002, quando cumpria regime de prisão semi-aberto, Mainha morou e trabalhou numa fazenda de 500 hectares de propriedade do juiz, localizada no distrito de Campos Belos, município de Caridade, a cem quilômetros de Fortaleza.
Assassino telefonou para o juiz da delegacia
Atualmente preso na cadeia pública de Maranguape por furto de gado, Mainha foi condenado a 52 anos de prisão por três assassinatos no Ceará. Após cumprir 12 anos no Instituto Penal Paulo Sarasate, foi beneficiado pelo regime semi-aberto em 2000. A ligação dele com o juiz Pedro Pecy foi descoberta em 2002, quando foi preso pelo delegado Wilder Brito Sobreira, então titular da Delegacia de Capturas e Polinter, em Campos Belos, por causa de cinco assassinatos no Rio Grande do Norte.
Na delegacia, o pistoleiro telefonou do celular do delegado para o juiz ¿ que já era o titular da 2ª Vara da Comarca de Sobral ¿ mas não conseguiu falar com ele. Horas depois, Pedro Pecy retornou a ligação e quis saber quem tinha tentado falar com ele.
Para delegado, ligação fere código da magistratura
O delegado Wilder Brito Sobreira, que atualmente trabalha na Delegacia Especial de Combate ao Narcotráfico (Denarc), disse a Pedro Pecy que quem havia lhe telefonado era o Mainha. O juiz, segundo o delegado, admitiu que o pistoleiro estava morando em sua fazenda a pedido de um amigo, mas não revelou o nome desse amigo.
O advogado do juiz, Renato César Pereira Lima, disse que oficialmente não existe qualquer prova de que tenha havido vínculo empregatício entre Pedro Pecy e Mainha. Ele afirmou que não conversaram sobre o assunto e nem soube dizer se o pistoleiro realmente morou na fazenda. Para o advogado, essa ligação não complicará a situação do seu cliente.
¿ Mesmo que esse fato tenha procedência (Mainha tenha morado na fazenda), não acredito que vá provocar algum efeito sobre o processo administrativo ou criminal ¿ disse Pereira Lima.
¿ Criminalmente, não tem nada de mais. Mas ter amizade com um criminoso deve ferir o código de disciplina da magistratura. Acredito que é uma falta grave ¿ afirmou o delegado.
O policial encaminhou o pedido de investigação do deputado ao juiz-auxiliar Francisco Suenon Bastos Mota, do Tribunal de Justiça do Ceará, presidente da comissão de sindicância que está investigando se o comportamento do juiz no dia do assassinato do vigilante em Sobral foi uma também um ato indisciplinar.