Título: HOSPITAIS SÃO DA ÉPOCA EM QUE RIO ERA CAPITAL FEDERAL
Autor: Alba Valéria Mendonça
Fonte: O Globo, 12/03/2005, Rio, p. 26

Cidade herdou rede complexa

A história pode explicar parte da crise experimentada pela área de saúde do município do Rio de Janeiro. Por ter sido capital federal, a cidade herdou uma rede grande e complexa. O vice-presidente de desenvolvimento institucional e recursos humanos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Paulo Gadelha, autor de uma tese de mestrado sobre a construção da assistência médica no Rio, diz que o embrião do que existe hoje surgiu nos anos 30.

- No início do século, existiam principalmente ordens religiosas, como a Ordem do Carmo ou a Beneficência Portuguesa, as associações mutualistas, ou seja, de socorro mútuo, e alguns consultórios particulares, como as policlínicas do Rio de Janeiro e de Botafogo, por exemplo. Havia também as Santas Casas, que tinham um impacto maior junto à população indigente. O padrão central era o associativismo, a proteção de grupos. Não havia a presença do estado nesta época.

O cenário, segundo ele, muda na década de 30. Gadelha conta que com o aumento das reivindicações trabalhistas e o fortalecimento do movimento sindical, começam a surgir as caixas de aposentadorias e pensões. É neste período que aparecem os institutos de aposentadoria e pensões, os chamados IAPs, já com a presença clara do estado.

- Esses institutos surgem a partir dos grupos sindicais mais importantes. Como o Iapetec, dos comerciários, o IAPB, dos bancários, o IAPM, dos marítimos - afirma Gadelha. - Os IAPs passam a se dedicar mais à assistência médica. Eles formariam o núcleo de alguns grandes hospitais do Rio. O Hospital da Lagoa, por exemplo, era dos bancários; o de Bonsucesso, dos comerciários; o do Andaraí, dos marítimos.

Ainda na década de 30, o médico Pedro Ernesto foi nomeado interventor do Distrito Federal (1931-1935). Segundo Gadelha, Pedro Ernesto, depois eleito prefeito do Rio, daria início a uma profunda mudança no sistema de saúde da cidade.

- Ele começou a esquadrinhar o Rio, estabelecendo regiões e fazendo uma hierarquização, num princípio parecido com o do SUS - afirma Gadelha. - Ele implantou, por exemplo, os hospitais Souza Aguiar, que era um modelo para a América Latina, e Miguel Couto.