Título: Gestor promete mudanças em duas semanas
Autor: Alba Valéria Mendonça
Fonte: O Globo, 12/03/2005, Rio, p. 26

José Temporão visita Hospital da Lagoa, diz que vai implantar administração compartilhada e sai aplaudido de reunião

Com apenas 50 dos 200 leitos funcionando e a emergência fechada desde 1999, o Hospital da Lagoa é hoje o retrato do abandono da saúde no Rio de Janeiro. Ontem, em reunião com chefes de setores e demais funcionários, o gestor indicado pelo Ministério da Saúde, José Gomes Temporão, prometeu empenho e rapidez para resolver os problemas mais urgentes da unidade, que tem ainda 14 leitos do centro cirúrgico interditados pela Vigilância Sanitária. Segundo Temporão, que é diretor-geral do Instituto Nacional do Câncer (Inca), dentro de duas semanas as mudanças começarão a ser percebidas pelos pacientes. Ele saiu da reunião aplaudido e foi vistoriar o hospital.

Acompanhado de toda a sua equipe - médicos, advogados e engenheiros - Temporão disse que quer implantar no Hospital da Lagoa o mesmo sistema de gestão compartilhada com médicos e funcionários que há cerca de dois anos vem apresentando bons resultados no Inca. A diretora médica, Dayse Simões Gomes, e a diretora administrativa, Adriana Orsida, acompanharam o gestor na visita ao Hospital da Lagoa. A equipe de Temporão vai fazer um levantamento completo das necessidades imediatas de cada setor e providenciar a compra de medicamentos e insumos.

- A necessidade de medicamentos será suprida pela Fiocruz, que tem um estoque grande de remédios fabricados para as farmácias populares. O Inca também poderá colaborar. Vamos rever contratos de empresas de alimentação, vigilância e limpeza e comprar equipamentos, em caráter emergencial, se necessário - disse Temporão, acrescentando que todas as chefias e diretorias serão mantidas, assim como não haverá transferência de funcionários.

A equipe de Temporão começa a trabalhar já neste fim de semana, mas ontem os pacientes ainda enfrentavam as dificuldade que há tempos vêm transformando a unidade de referência no tratamento de câncer e diabetes num hospital abandonado. A aposentada Maria Madalena da Silva, que tem problema de catarata, desde novembro aguarda ser chamada para cirurgia.

- Quando soube da intervenção, decidi vir ao hospital, para saber se a cirurgia já podia ser marcada. Vim na esperança de que alguma coisa já tinha mudado, mas me disseram que só a partir da semana que vem é que vão ter uma noção de quando poderei ser operada - disse Maria, que vai aguardar um telegrama dos médicos em casa.

Paciente do ambulatório de nefrologia, Maria Ferreira chegou animada com a filha Sandra de Souza Ferreira para a consulta que fora marcada em 22 de dezembro. Mas não foi atendida, pois o médico entrou de férias e não há outro em seu lugar. A consulta foi remarcada para 15 de abril. Com a falta de atendimento, Maria, que sofre de uma nefropatia, já está na iminência de ter de fazer hemodiálise.

- Já estou com os rins e a visão comprometidos. A cada dia que passa a situação se agrava. Estou aqui há oito meses e nunca consegui os medicamentos. Minha filha é que tem de comprar os remédios, pois recebo salário-mínimo - disse ela, que na próxima terça-feira completa 83 anos. - Espero ganhar uma consulta de presente de aniversário.

Com glaucoma, o aposentado Flávio Salvador só consegue se deslocar com a ajuda da sua empregada, Tereza Maria da Fonseca. Ontem, ele conseguiu se consultar e já marcou uma nova visita ao oftalmologista no dia 6 de agosto, mas até lá vai ter que desembolsar R$96 pelos dois colírios que tem de usar.

- Os médicos são ótimos, mas o hospital está muito abandonado. Não tem mais nada. Há seis meses não recebo os colírios que preciso. Isso é lamentável, pois o tratamento aqui é muito bom - lamentou Flávio. - Espero que isso tudo mude com a intervenção.

Legenda da foto: JOSÉ GOMES Temporão (de terno e gravata) no Hospital da Lagoa: "Vamos comprar equipamentos, em caráter emergencial, se necessário"