Título: FUNASA TRANSFERE BEBÊ ÍNDIO DE HOSPITAL
Autor: Paulo Yafusso
Fonte: O Globo, 15/03/2005, O País, p. 5

Para tentar evitar outra morte, Fundação tira menina de 7 meses de Dourados

CAMPO GRANDE. Uma mega-operação foi montada pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa) para transferir uma criança índia que nasceu prematura e estava internada no Hospital da Mulher em Dourados, a 220 quilômetros de Campo Grande. A indiazinha, de 7 meses, é uma das duas crianças que ainda não haviam sido retiradas do HM pela Funasa por estarem sendo mantidas em incubadora. O bebê sofre de má formação congênita, de acordo com informações da assessoria da Funasa.

Para transferir a indiazinha para a Santa Casa de Campo Grande, a Funasa fretou um avião, numa operação contra o tempo. Os médicos tiveram que retirar o bebê às pressas e levá-lo numa ambulância até o aeroporto de Dourados. O avião teve que ser adaptado para funcionar como UTI. Todo o esforço foi para garantir que a menina sobreviva e não aumente as estatísticas de morte entre crianças guaranis-caiovás da reserva de Dourados. Só este ano foram nove mortes, seis delas por desnutrição.

A Funasa decidiu transferir o bebê para a capital por causa do agravamento do quadro clínico da paciente. De manhã a menina foi submetida a uma transfusão de sangue por problemas de anemia.

Os índios que estavam internados na pediatria do Hospital da Mulher foram transferidos por causa da suspeita levantada pela Funasa de que algumas crianças internadas naquele hospital morreram por causa de infecção hospitalar. Segundo a Fundação, quatro índias que deram entrada no Hospital da Mulher morreram este ano por infecção generalizada ou pneumonia, depois de serem internadas por outras patologias, como a diarréia. A comissão de infecção hospitalar está apurando a denúncia e o relatório dever ficar pronto nos próximos dias.

Promotora começa a ouvir pais de crianças internadas

Hoje a promotora da Infância e da Juventude de Dourados, Jiskia Trentin, começa a ouvir os pais das oito crianças da Reserva de Dourados que estão internadas no Centro de Reabilitação Nutricional (Centrinho). A promotora vai também apurar as causas das nove mortes de crianças indígenas registradas nos hospitais da cidade. Três delas morreram em decorrência de outras patologias, que podem, no entanto, estar relacionadas à deficiência nutricional.

Ontem, o Ministério da Saúde, em parceria com a Funasa e a Prefeitura de Dourados, ativou 20 leitos do setor de pediatria do Hospital Universitário. São 6 UTIs e 14 vagas na enfermaria, todas destinadas ao tratamento de crianças indígenas com desnutrição.