Título: OS RISCOS SÃO MAIORES DO QUE SE PREVIA
Autor: Patrícia Hewitt e Margaret Beckett
Fonte: O Globo, 15/03/2005, Opinião, p. 7

As mudanças climáticas representam o maior desafio ambiental enfrentado pela comunidade internacional atualmente. A maioria dos cientistas independentes já concorda que as mudanças climáticas ocorrem como resultado da emissão de gases de efeito estufa na atmosfera. A ciência está, atualmente, interessada em compreender os efeitos globais das mudanças climáticas agora, e no futuro. Contudo, esse não é somente um desafio ambiental; é também um desafio econômico. Os custos de uma mudança climática radical são potencialmente enormes, podendo atingir 150 bilhões de dólares por ano na próxima década.

Foi nesse contexto que Tony Blair, primeiro-ministro do Reino Unido, destacou, durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, as prioridades de seu governo durante a presidência britânica do G-8 em 2005: mudanças climáticas e África. É importante que o G-8 reconheça a urgência do problema e da necessidade de uma atitude. Recentemente, o Reino Unido foi palco de uma conferência que reuniu cientistas eminentes de 29 países. Chegou-se à conclusão de que os riscos são maiores do que se previa, com um grande número de impactos potenciais particularmente perturbadores derivados do aumento de dióxido de carbono na atmosfera e das mudanças climáticas.

À medida que a economia mundial crescer, a demanda por energia vai, sem dúvida, aumentar. Em 2002, a geração de energia e calor foi responsável por 40% das emissões de dióxido de carbono em todo o mundo. Apesar do crescente uso de formas de energia renováveis, temos de reconhecer que os combustíveis fósseis continuarão a gerar a maior parte da energia do mundo em um futuro próximo.

Todavia, podemos tornar os combustíveis fósseis menos poluentes, promover o desenvolvimento e o uso de energia renovável e aumentar a eficiência da produção de energia e da sua utilização final. Muitas dessas tecnologias já existem e podem ser implementadas a um custo muito menor do que se pensa.

O Reino Unido é o anfitrião de debate para ministros de Energia e do Ambiente, hoje e amanhã, para o qual convidou representantes de 20 países com necessidades significativas de energia. Dentre esses, incluem-se os países do G-8, outros países industrializados e economias emergentes, dentre as quais o Brasil, reunidos para discutir como a geração de energia pode ser mais sustentável.

O Reino Unido também está fazendo uso de sua presidência do G-8 para aproximar-se das economias emergentes mais importantes, cujas necessidades energéticas são cada vez maiores. Até 2030, as usinas de carvão dos países em desenvolvimento podem emitir mais dióxido de carbono do que todo o setor energético dos países desenvolvidos emite agora.

Reconhecemos que qualquer política para mitigar os efeitos das mudanças climáticas não deve prejudicar significativamente a prosperidade e o crescimento econômico ¿- nenhum governo concordaria com tal política. Entretanto, é possível agir agora, de forma a promover benefícios econômicos significativos e, ao mesmo tempo, mitigar os efeitos das mudanças climáticas.

Estima-se que os índices de gases de efeito estufa emitidos pelo Reino Unido tenham sido 14% menores em 2003 em relação aos níveis verificados em 1990, embora, no mesmo período, nossa economia tenha crescido em 36%. O Reino Unido provou, portanto, que o crescimento econômico não precisa resultar no aumento das emissões de gases de efeito estufa.

O primeiro-ministro britânico também anunciou, em Davos, que as mudanças climáticas serão uma prioridade para a presidência britânica da União Européia este ano. A UE se comprometeu com uma estratégia para mudanças climáticas, e o Reino Unido ajudará a desenvolver uma estratégia sólida e abrangente para toda a Europa. Queremos dividir a nossa experiência com o resto do mundo.

As mudanças climáticas não devem ser vistas como uma inconveniência distante, abstrata, futura. O problema já afeta a todos nós hoje e, cada vez mais, afetará as futuras gerações, a não ser que atuemos de forma decisiva agora.

PATRICIA HEWITT é ministra do Comércio e da Indústria do Reino Unido. MARGARET BECKETT é ministra do Meio Ambiente, da Alimentação e dos Assuntos Rurais do Reino Unido.