Título: TEMPERATURA ALTA NO DEBATE SOBRE A FUSÃO
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Fonte: O Globo, 15/03/2005, Rio, p. 15

Encontro no auditório do GLOBO dividiu a platéia sobre a idéia de separar os estados 30 anos depois

A polêmica que marca o tema e divide os fluminenses deu o tom ontem ao debate sobre os 30 anos da fusão dos estados da Guanabara e do Rio de Janeiro, completos hoje, como parte da série ¿Encontros O GLOBO¿. Com direito a intervenções apaixonadas de lado a lado, a discussão dividiu a platéia que compareceu ao auditório do jornal a favor ou contra o movimento de desfusão que ganha corpo na cidade. O debate teve a participação da economista Maria Silvia Bastos Marques; do ex-prefeito do Rio Israel Klabin; do secretário estadual de Planejamento, Tito Ryff; e do professor Mário Osório. O mediador foi o editor de Rio do GLOBO, Paulo Motta.

Primeiro prefeito do Rio depois da fusão, Israel Klabin, optou por apresentar uma lista de 12 sugestões para incrementar a economia e desenvolver a cidade do Rio. As propostas passam pelas áreas de Segurança, Meio Ambiente e Infra-estrutura. Entre elas, a implementação de uma política de tolerância zero na área de Segurança, organizada por um comando central. Israel Klabin afirmou que a fusão foi ruim para todos. E que aceitou o cargo, em 1975, como uma missão:

¿ O estado do Rio e da Guanabara, na forma em que foram fundidos, não serviu a nenhum dos dois ¿ disse ele, que apresentou dados mostrando que, de uma participação no PIB, em 1949, de 75,2%, o antigo estado da Guanabara passou para 51,2% em 2001.

O professor Mauro Osório, autor da tese de doutorado ¿Origens e especificidades da crise carioca e fluminense¿ disse que os problemas atuais do Rio não foram causados pela fusão. Mas por fatores históricos e econômicos surgidos a partir da transferência da capital para Brasília em 1960.

¿ A fusão na verdade virou uma grande Geni ¿ disse ele.

Com um discurso otimista, Tito Ryff defendeu a manutenção do desenho atual do estado do Rio com um argumento financeiro: segundo ele, com a desfusão, os dois estados aumentariam suas despesas e dívidas.

Discussão sobre a falta de investimentos eleva temperatura do debate

Apesar de ressaltar que foi um ato arbitrário, Ryff afirmou que a fusão trouxe grandes investimentos para o novo estado e afirmou que os problemas atuais estão relacionados com a crise econômica nacional na década de 80:

¿ A lua-de-mel não foi um fracasso.

O secretário também observou que a elite carioca defendeu a fusão na década de 60 e 70 e que, naquela época, a cidade já tinha muitos dos problemas de hoje.

¿ No Rio havia pobreza muito forte. A violência se agravou sim, mas nunca houve essa Guanabara edílica ¿ disse ele.

A economista Maria Silvia Bastos Marques, defensora da cidade-estado, e o secretário de Planejamento Tito Ryff tiveram uma breve discussão durante a exposição dela. Ela sustentou que as tentativas do governo de incrementar a economia do estado não trouxeram benefícios para a cidade do Rio:

¿ O secretário Tito Ryff citou uma série de investimentos e nenhum deles é na cidade do Rio de Janeiro ¿ disse Maria Silvia, que foi interrompida por Tito:

¿ Há o projeto de trazer a Thyssen (siderúrgica) para o estado.

¿ Ela fica no limite da cidade, em Santa Cruz ¿ devolveu Maria Sílvia, que sustenta que a fusão não agregou valores ao antigo estado do Rio nem à Guanabara.