Título: CONSUMO COM FÔLEGO RENOVADO
Autor: Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 15/03/2005, Economia, p. 25

Pesquisa da Fecomércio-RJ mostra, em fevereiro, compras no maior nível desde 2003

Janeiro e fevereiro, que costumam ser meses de rescaldo após as compras de Natal, prometem boas surpresas para o comércio varejista do Rio de Janeiro. O faturamento do setor ainda não foi apurado, mas pesquisa inédita da Fecomércio-RJ mostra que o consumo na Região Metropolitana do Rio alcançou no mês passado seu nível mais alto desde janeiro de 2003, superando até mesmo o desempenho de dezembro, quando o décimo terceiro salário e as festas de fim de ano dão impulso às vendas.

Dos 3.149 entrevistados pela Fecomércio, 47% afirmaram ter adquirido algum bem durável (eletrodomésticos e automóveis, por exemplo) nos últimos seis meses. Em janeiro, esse patamar era de 46% e, em dezembro, ligeiramente abaixo: 45%. Hoje, o IBGE vai divulgar o resultado das vendas de janeiro do comércio em todo Brasil e os analistas esperam uma alta superior a 5% frente ao mesmo mês do ano passado, isso depois de o setor ter obtido uma expansão recorde de 9,25% em 2004.

¿ Essa é a surpresa deste início de ano: o consumidor continua com fôlego e mantém as compras sem atrasar prestações, porque a inadimplência também está caindo ¿ diz João Carlos Gomes, economista da Fecomércio-RJ.

Inadimplência recuou para 15%

Segundo a pesquisa da Fecomércio-RJ, em fevereiro 15% dos consumidores estavam com prestações de financiamentos em atraso, contra uma inadimplência de 17% no mesmo mês de 2004. Gomes destaca que, no início do ano, gastos extras como IPTU, IPVA e reajuste de mensalidade escolar costumam apertar o orçamento. Ele acredita que o crescimento do crédito, com modalidades a juros mais baixos, como o desconto em folha, ajudou os consumidores a organizarem melhor seu orçamento. Segundo dados do Banco Central, os empréstimos a pessoas físicas cresceram 8% no último trimestre.

Além do crédito, a recuperação da renda e a queda do desemprego têm ajudado no consumo, dizem os analistas. Nas seis maiores regiões metropolitanas do país, a massa salarial (soma dos rendimentos de todos os trabalhadores) cresceu 12,5% nos últimos 12 meses, segundo o IBGE.

¿ O setor com melhor desempenho no comércio neste início de ano deve ser o de bens não-duráveis, como supermercados e hipermercados, graças à melhora na renda ¿ diz Giovanna Rocca, economista do Unibanco, que estima uma expansão de 5,5% nas vendas do comércio brasileiro em janeiro, cujo resultado será apresentado hoje pelo IBGE.

No Rio, diz o economista da Fecomércio-RJ, a melhora do mercado de trabalho teve papel ainda mais importante. Em janeiro, o desemprego costuma aumentar com o fim das vagas temporárias de Natal e o Rio foi a única região metropolitana com queda na taxa, de 8,5% para 7,4%, graças sobretudo ao turismo.

Altamiro Carvalho, assessor econômico da Fecomércio-SP, acredita que a melhora nas vendas neste início de ano não garante, ainda, um crescimento sustentável do varejo este ano. Segundo ele, em janeiro, o comércio em São Paulo teve comportamento assimétrico, com forte expansão em alguns setores (a venda de veículos cresceu 42%) e queda em outros segmentos (a retração foi de 13% nos supermercados).