Título: TENTATIVA DE COMPRA DE VOTOS ATINGIU 9% DOS ELEITORES
Autor: Bernardo de La Peña
Fonte: O Globo, 16/03/2005, O País, p. 9

Pesquisa do Ibope mostra que 11 milhões de brasileiros receberam oferta de dinheiro ou bens nas eleições de 2004

BRASÍLIA. Quase 11 milhões de eleitores ou 9% do eleitorado receberam oferta de dinheiro ou de algum bem em troca de seu voto nas eleições de 2004. A revelação faz parte de uma pesquisa feita pelo Ibope para a ONG Transparência Brasil e a União Nacional dos Analistas e Técnicos de Finanças e Controle (Unacon). Os números mostram que a corrupção eleitoral ¿ ou pelo menos a oferta de vantagens ¿ não distingue níveis de renda ou escolaridade, mas está mais presente entre os mais jovens e nos municípios menores e do interior.

Nas regiões Sul e Nordeste as ofertas chegaram a, respectivamente, 12% e 11% do eleitorado. No Norte e no Centro-Oeste ficaram em 9% e, no Sudeste, em 5%. Entre as 2.002 entrevistados, todos maiores de 16 anos, ouvidos entre 10 e 15 de fevereiro, 3% afirmaram ter recebido ofertas de dinheiro e 6% de bens ou favores. A pesquisa, feita em 143 municípios, mostrou ainda que 6% ¿ cerca de 6,6 milhões de eleitores ¿ ouviram de servidores municipais pedidos de voto em troca da prestação de um serviço público.

¿ É um problema preocupante. Se continuar assim, pode comprometer até o resultado das eleições ¿ avalia o diretor executivo da Transparência Brasil, Claudio Abramo.

Em 2000, primeiro ano em que a pesquisa foi feita, 6% dos eleitores contaram ter recebido oferta de dinheiro. Em 2002, quando foi incluída a pergunta sobre a oferta de bens e favores, o percentual foi menor: 3%, sendo 1% (dinheiro) e 2% (bens ou favores). Embora o percentual de 2004 seja maior, para Abramo, não é possível saber se a corrupção eleitoral aumentou.

Para o ministro Sepúlveda Pertence, do Tribunal Superior Eleitoral, solucionar o problema é um desafio não apenas da Justiça Eleitoral, mas também do Legislativo e do Executivo:

¿ É um número extremamente alto e retrata que nós atingimos um processo democrático exemplar, mas falta muito para alcançarmos a democracia substancial do regime. A solução vem com o tempo, não existe fórmula mágica.

Fonteles diz que faltam procuradores para investigar

O procurador-geral eleitoral, Claudio Fonteles, também considerou elevado o número de eleitores vítimas de tentativa de corrupção. Fonteles explicou que o Ministério Público não tem procuradores suficientes para fiscalizar essas práticas.

A pesquisa mostrou ainda que 2% dos entrevistados pagaram propina para obter a realização de um serviço público municipal entre 2000 e 2003. Se for levada em conta a margem de erro de 2,2 pontos percentuais, o resultado pode ser considerado similar aos 4% obtidos no mesmo levantamento realizado após a eleição de 2000, referente aos mandatos anteriores.

Segundo Abramo, o TSE já foi procurado, mas nunca manifestou interesse em investigar:

¿ Não há combate à compra de votos. A Justiça Eleitoral não toma medidas.

O levantamento mostra que quanto mais jovem mais vulnerável o eleitor é a ofertas de compra de votos: o percentual de eleitores assediados é de 12% na faixa de 16 a 24 anos e de apenas 5% nas pessoas acima de 50 anos. Já o nível de instrução tem pouca relação com a vulnerabilidade à compra de votos, variando de 7% entre pessoas que só estudaram até o primário a 9% entre os entrevistados com curso superior.