Título: BRASIL PERDE 8,7% DE SEUS GRÃOS NAS ESTRADAS
Autor: Luciana Rodrigues e Eliane Oliveira
Fonte: O Globo, 16/03/2005, Economia, p. 23

Desperdício anual chega a 7,6 milhões de toneladas. Perdas de feijão alimentariam 4,9 milhões de pessoas

O Brasil desperdiça, anualmente, cerca 7,6 milhões de toneladas de soja, milho, arroz, trigo e feijão. É o equivalente a 8,7% da produção nacional desses grãos que se extravia, na maioria dos casos, pelas estradas do país. Essas são as principais conclusões do primeiro levantamento de perdas agrícolas feito pelo IBGE, apresentado ontem. O instituto constatou que, entre 1997 e 2003, foram perdidas 53,5 milhões de toneladas de grãos após a colheita, ou seja, no transporte e armazenagem.

As falhas na logística e comercialização dos grãos provocam prejuízo de quase o dobro do registrado na pré-colheita, ou seja, no período em que o clima adverso ou o surgimento de pragas podem levar a uma quebra de safra. Na mesma pesquisa, o IBGE apurou, entre 1996 e 2002, perdas de 28 milhões de toneladas nos cinco principais grãos produzidos no país (soja, milho, arroz, trigo e feijão) antes da colheita.

Desperdício de arroz equivale às importações

Segundo o IBGE, após a colheita, a imensa maioria das perdas ocorre no transporte rodoviário dos grãos. Só no feijão, foram para o lixo em média 87,4 mil toneladas por ano, o suficiente para atender ao consumo de cerca de 4,9 milhões de brasileiros.

¿ A questão é mais grave porque as perdas após a colheita, que são as maiores, poderiam ser evitadas se houvesse uma melhora na infra-estrutura e na logística do país. Já as perdas antes da colheita, muitas vezes, são incontroláveis, como no caso de imprevistos no clima ¿ explicou o gerente de análise e planejamento do IBGE Júlio Cesar Perruso.

Perruso lembrou que mais de 60% das cargas brasileiras do agronegócio são transportadas por estradas. Pesquisa recente da Confederação Nacional de Agricultura (CNA) constatou um prejuízo de R$2,7 bilhões, a cada safra, com derrame de grãos nas rodovias do país. O IBGE aponta a falta de investimentos em armazéns como agravante.

Conab exigirá certificados de armazéns este mês

Renato Maluf, professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e membro do Conselho de Segurança Alimentar (Consea), afirma que as perdas são um problema antigo na agricultura brasileira:

¿ Ninguém pode se dar ao luxo de desperdiçar o que produz ¿ afirmou.

No caso do arroz, a perda após a colheita, em torno de um milhão de toneladas por ano, equivale ao volume importado desse grão no país. No milho, o desperdício, próximo a quatro milhões de toneladas anuais, supera as exportações do país.

A superintendente de Armazenagem e Movimentação de Estoques da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Denise Deckers, disse que, mais do que as estradas em péssimas condições, o grande vilão do desperdício é a armazenagem, devido à baixa qualificação dos empregados no manuseio dos produtos. Segundo ela, ainda este mês, passará a ser exigida a certificação dos armazéns.