Título: PMDB CEDE COMUNICAÇÕES PARA FICAR COM 3 PASTAS
Autor: Ilimar Franco e Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 18/03/2005, O País, p. 5

Eunício deve ir para a Integração Nacional, deixando seu cargo atual para Ciro Nogueira, do PP de Severino

BRASÍLIA. Um dos impasses da reforma ministerial, a disputa entre o PP e o PMDB pelo Ministério das Comunicações está resolvida. Durante reunião de mais de duas horas, na noite de anteontem, o PMDB abriu mão de manter Eunício Oliveira nas Comunicações, abrindo caminho para que seja nomeado o deputado Ciro Nogueira (PP-PI) para o cargo. Ainda assim, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva só deverá anunciar as mudanças no primeiro escalão do governo segunda ou terça-feira. Aparentemente, Lula ainda não bateu o martelo sobre a substituição do ministro Aldo Rebelo na Coordenação Política.

O acerto no PMDB, que ainda terá de ser chancelado por Lula, foi feito pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e os senadores José Sarney (PMDB-AP) e Aloizio Mercadante (PT-SP).

A negociação prevê o remanejamento de Eunício Oliveira para o Ministério da Integração Nacional, que ficará vago com a ida de Ciro Gomes para o Ministério da Saúde, e a nomeação da senadora Roseana Sarney (PFL-MA) para o Ministério das Cidades. Ontem à noite, Lula ainda resistia a tirar o amigo petista Olívio Dutra da pasta das Cidades.

¿ Não tinha muito sentido ficarmos brigando para manter o Ministério das Comunicações. Só estamos aguardando que as negociações sejam formalizadas pelo presidente Lula ¿ disse Renan Calheiros.

¿ O chefe da Casa Civil, José Dirceu, me disse que estava tudo certo e que não havia problema algum. Presumi que vamos ficar com as Comunicações ¿ afirmou o líder do PP, José Janene (PR).

Jucá deve ir para Previdência

O outro cargo do PMDB será o Ministério da Previdência, já que Lula decidiu substituir Amir Lando pelo senador Romero Jucá (PMDB-RR). Ontem de manhã, Lando foi ao gabinete da presidência do Senado e comentou que reassumiria seu mandato de senador.

Para tentar fechar a reforma, o presidente Lula almoçou com o ministro Dirceu e fez outras reuniões ao longo da tarde. Além da coordenação política, havia outras decisões a tomar, como o novo ministro do Planejamento, para o qual estão cotados os deputados Paulo Bernardo (PT-PR) e Jorge Bittar (PT-RJ). Palocci prefere o primeiro, o presidente Lula, o segundo. O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante, justificou a demora do presidente para decidir:

¿ É difícil fazer a reforma porque é preciso escolher nomes que combinem a competência técnica na gestão com a representatividade política.

Lula ainda quer conversar mais com os aliados, e, por isso, decidiu adiar o anúncio das mudanças para o início da próxima semana. Com isso, o pernambucano Humberto Costa, ministro da Saúde, poderá participar da festa dos 25 anos do PT em Recife, amanhã.

Para o comando da articulação política, o impasse está ligado à sucessão ao governo paulista. Há um temor de que o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) tumultue o processo de escolha do candidato do PT ao cargo. A outra dúvida se refere à transferência de poderes da Casa Civil para a Coordenação Política, no que se refere a nomeações para cargos federais.

Ontem, Lula reuniu-se no fim da tarde com ministros da coordenação política, técnicos do governo e o presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Mattoso, mas não abordou a reforma ministerial. Foi uma reunião técnica. Na noite de quarta-feira, o presidente também evitou comparecer ao jantar em homenagem ao aniversário dos ministros José Dirceu (Casa Civil) e Jaques Wagner (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social). O jantar, na casa de Dirceu, contou com a presença da ex-prefeita Marta Suplicy e do ministro Antonio Palocci (Fazenda).

Lula viajará com demissionários

Lula interrompe hoje por algumas horas as reuniões sobre a reforma ministerial para cumprir uma agenda em Aracaju (SE), administrada pelo prefeito petista Marcelo Déda. Na comitiva do presidente estarão os ministros Humberto Costa e Olívio Dutra. Lula só retorna a Brasília no fim de semana. Segundo assessores diretos, Lula manteve a disposição de não ir a Recife amanhã para a festa dos 25 anos do PT. O esquema presidencial de viagem foi totalmente desmobilizado, apesar de o comando do PT continuar pressionando.

A demora na conclusão e anúncio da reforma já incomoda até auxiliares palacianos. A avaliação comum é a de que o presidente não pode mais adiar as decisões sobre mudanças na equipe.

Em Aracaju, Lula vai inaugurar um conjunto habitacional e uma avenida, além de participar de uma cerimônia de comemoração dos 150 anos da cidade para prestigiar o amigo Marcelo Déda.

Em contrapartida, o presidente estará contrariando o prefeito de Recife, João Paulo, e a cúpula do partido ao não participar das comemorações dos 25 anos do PT.

Mesmo preservado na reforma ministerial, com a manutenção do Ministério do Turismo, o presidente do PTB, Roberto Jefferson (RJ), criticou o tratamento que o governo Lula dispensa aos aliados:

¿ O governo Lula faz erodir a liderança formal da gente. Faz um ano e meio que nos prometeram espaços no governo e até agora nada.

O trabalhista se referia à promessa de que o partido nomearia o presidente do IRB, com a indicação de Luiz Apolônio para substituir Lídio Duarte, que tinha sido indicado para o cargo pelo ex-presidente do PTB José Carlos Martinez, que morreu num acidente aéreo.