Título: CIVIS TÊM QUASE 10 VEZES MAIS ARMAS QUE ESTADO
Autor: Evandro Éboli
Fonte: O Globo, 18/03/2005, O País, p. 11

Pesquisa mostra que, em uso privado, mais da metade é usada por bandidos ou não tem registro

O número de armas em poder da sociedade civil no Brasil é quase dez vezes maior que a quantidade em poder do Estado, incluindo as Forças Armadas, polícias e outras autoridades. Entre as 15,5 milhões de armas de uso privado no Brasil, 8,7 milhões são usadas ilicitamente: ou estão em mãos de bandidos ou foram comercializadas no mercado informal e não têm registro. As armas de uso público somam apenas 1,7 milhão, sendo 1 milhão em poder de Exército, Marinha e Aeronáutica e 715 mil com as polícias e outras autoridades.

Estatísticas reforçam campanha por desarmamento

Os números constam da pesquisa ¿Brasil: As armas e as vítimas¿, feita pelo Instituto de Estudos da Religião (Iser), com apoio do Viva Rio e da Small Arms Survey. A pesquisa, inédita no país, está sendo divulgada no 1º Seminário Internacional sobre Regulamentação da Posse e do Uso de Armas Pequenas por Civis, que será encerrado hoje, no Rio.

As estatísticas reforçam o argumento da campanha pelo desarmamento de que a posse de arma é perigosa porque pode ser levada por ladrões ou sacada inutilmente numa situação de defesa. De acordo com a pesquisa, o sistema público de saúde gastou em 2002 entre R$130 milhões e R$140 milhões para tratar de feridos por armas de fogo. Um em cada três baleados que são hospitalizados receberam disparo não-intencional.

O Brasil lidera o ranking de mortes por armas de fogo no mundo. Pouco mais de 38 mil pessoas morreram por tiros em 2002 (incluindo homicídios, suicídios e acidentes). Também em 2002, houve 19.519 internações causadas por tiros, um terço por acidente.

O relatório integral deverá ser apresentado em julho deste ano na Organização das Nações Unidas. Segundo Rubem César Fernandes, coordenador da pesquisa, pela primeira vez o levantamento de posse e uso de armas e suas vítimas foi feito em todos os municípios do país e inclui o detalhamento a partir do Sistema de Informação de Mortalidade e o Sistema de Informação de Internação Hospitalar, ambos do Banco de Dados do Sistema Único de Saúde. Também compõem a pesquisa os bancos de dados das Forças Armadas, da Polícia Federal e das polícias estaduais.

A pesquisa pôde determinar que de cada quatro feridos nos casos de agressões por arma de fogo que chegaram a ser internados, três morreram, segundo dados de 2002. Nos Estados Unidos, país com alta taxa de homicídios para nações desenvolvidas, a relação é de quatro para um. O principal perfil etário dos hospitalizados devido a balas é a faixa etária dos 15 a 24 anos. Os acidentes com armas de fogo foram as principais causas de internação de crianças e pré-adolescentes (até 14 anos) com lesões por tiros.