Título: PRESO CHEFE DE QUADRILHA DE HACKERS QUE DESVIOU R$50 MILHÕES EM 2 ANOS
Autor: Jorge Martins e Cristiane de Cássia
Fonte: O Globo, 17/03/2005, Rio, p. 17

Bando também tem ligações com tráfico e receptação de cargas roubadas

Apontado pela Polícia Federal como um dos chefes de uma quadrilha de hackers, Valdir Paulo de Almeida, de 42 anos, foi preso anteontem por agentes federais de Santa Catarina num apartamento do condomínio Barramares, na Avenida Lúcio Costa, na Barra. A prisão foi resultado de uma operação denominada Net-Livre, que começou em novembro do ano passado, em Florianópolis, como desdobramento da Operação Cavalo de Tróia.

Segundo o delegado da PF Raimundo Lopes Barbosa, a quadrilha é responsável pelo desvio de R$50 milhões de contas bancárias nos últimos dois anos. Os desvios foram feitos em contas de pessoas que moram no Rio, em São Paulo, no Paraná e em Santa Catarina.

Quadrilha usava adolescentes como hackers

O crime envolvia até anúncios em jornais e pela internet. Segundo o delegado Raimundo Lopes Barbosa, os integrantes da quadrilha se ofereciam para quitar boletos bancários de pessoas físicas ou empresas com problemas de crédito. Depois de receberem metade do valor devido, eles contratavam hackers para invadir contas bancárias de terceiros através da internet e assim fazer o pagamento dos boletos.

As investigações da Polícia Federal começaram em novembro de 2003, quando foi deflagrada a Operação Cavalo de Tróia. Na primeira etapa, 27 pessoas foram presas em todo o país. Na segunda fase, foram presas mais 64 pessoas. Cerca de R$250 milhões foram desviados em todo o país. Em novembro do ano passado, como desdobramento da Cavalo de Tróia, foi deflagrada a operação Net-Livre. Dois integrantes da quadrilha foram detidos em Curitiba: tinham 17 anos.

¿ Assim como acontece no tráfico de drogas, as quadrilhas costumam se utilizar de menores para atuar como hackers ¿ disse o delegado.

Os policiais federais estavam monitorando todos os passos de Valdir. Ele pretendia fugir para São Paulo. Valdir foi levado ontem à noite para Florianópolis e será indiciado por estelionato, formação de quadrilha e violação de sigilo bancário. Como não havia mandado de busca e apreensão, o delegado pediu a Valdir que assinasse uma autorização para entrada dos policiais no flat. Nas buscas, foram encontrados boletos bancários em nome de várias pessoas, que serão chamadas para depor. Segundo o delegado Raimundo Lopes Barbosa, essas pessoas também podem ter incorrido no crime de estelionato como co-autoras. Também foram recolhidos computadores e CDs com dados cadastrais de pessoas físicas e jurídicas.

Durante as investigações, os agentes descobriram que o bando também tem envolvimento em golpes internacionais, tráfico de drogas e receptação de carga roubada. Dona de dois aviões que eram usados para viagens, principalmente para o Paraguai, de 20 carros e dez imóveis, a quadrilha é acusada de usar o dinheiro retirado das contas bancárias para comprar cocaína e revender a droga.