Título: As perdas de Cesar
Autor: Teresa Cruvinel
Fonte: O Globo, 19/03/2005, O Globo, p. 2

O PFL pode estar vendo repetir-se agora o filme de 2002: lançou com muita antecipação um candidato a presidente que acabou ardendo na fogueira antes mesmo de decolar. O que está acontecendo ao prefeito Cesar Maia é diferente, em essência, do que houve com Roseana Sarney, mas nos dois casos o partido fez investimentos que podem resultar em perda total.

Até aqui, falou-se de tudo contra Cesar Maia, menos que fosse um mau administrador. Foi este bom conceito como gestor público que lhe garantiu, nos últimos anos, a transigência dos eleitores para com seus traços mais discutidos: a imprevisibilidade, o alto senso de oportunidade, a instabilidade partidária e o gosto assumido pelo marketing e por aquilo que ele mesmo batizou como sendo um factóide.

A crise na rede municipal de saúde e a intervenção federal podem ter afetado seriamente este que é seu principal capital político, o conceito de bom administrador. Seus amigos e seus adversários dizem isso. Cesar, tudo indica, parece ter cometido um erro de cálculo ao esticar tanto a corda na disputa com o governo federal. Primeiro, insistindo na devolução dos hospitais federais municipalizados. Os hospitais federais do Rio, alguns deles herança dos tempos em que a cidade era capital federal, já foram ilhas de excelência em algumas áreas. O Into e o Inca ainda o são, apesar das dificuldades. A decadência dos que foram municipalizados começou antes da transferência, mas aumentou depois. Isso ficará na conta de Cesar. Feita a intervenção, que alcançou também dois hospitais municipais, ele insistiu em que sempre a desejou, chegando a distribuir panfletos neste sentido. Finalmente reagiu, recorrendo ao STF contra a intervenção que revelou, de forma irrefutável, o caos e a incúria administrativa no setor. Ao ponto de terem sido descobertos ambulâncias e equipamentos novos e sem uso, enquanto a população penava nas filas por um exame. Cesar, que se vale tanto das pesquisas e conhece como poucos sua aplicação na política, pode já ter constatado os danos à sua imagem e os ganhos do governo Lula com a intervenção. O recurso ao STF contraria suas atitudes anteriores e busca, tardiamente, um redirecionamento do assunto. Mas segue ele no mesmo batidão, o de politizar a questão, quando acusa o ministro Humberto Costa de estar se concedendo um enterro de luxo com a intervenção. Fortalecido, o ministro foi de fato, talvez não o suficiente para ser mantido no cargo. Mas foi Cesar quem lhe forneceu os pretextos para uma intervenção que ele mesmo, ministro, evitava, contrariando setores do governo. A disposição federal é para sustentar a intervenção até que a crise na saúde do Rio esteja realmente superada. É o mínimo que a população pode esperar.

Já o futuro político de Cesar pode ter sido gravemente comprometido. Até no PFL isso é ouvido. O que mesmo, pergunta-se um líder pefelista, ele agora irá dizer no programa nacional do partido, que deve ir ao ar no mês que vem? Foi inteiramente destinado a divulgar sua candidatura presidencial e seus feitos como prefeito do Rio.

Há quem acredite que a intervenção só aconteceu porque Cesar virou candidato a presidente. Há fatos objetivos contra esta leitura, mas também ela confirma o que já foi dito aqui. O Rio tem mais a perder do que a ganhar com candidaturas presidenciais sem lastro nacional.

Lula está bem com os roqueiros. Depois do apoio de Bono Vox, do U-2, recebe hoje na Granja do Torto a visita de Lenny Kravitz, que vai lhe dar de presente uma guitarra.

Festa numa hora destas

Adiada e transferida por conta de problemas no governo ou no partido, a festa dos 25 anos do PT, hoje, em Recife, passará pouco percebida. Hoje é sábado, os jornais de domingo fecharão cedo, o presidente Lula nem irá. É boa a desculpa de que o partido não tem dinheiro para bancar seu deslocamento, com tudo que isso exige. Mas o caso é mesmo que Lula demitirá ministros, e talvez até Humberto Costa, da Saúde, um dos anfitriões da festa. Ficou para evitar constrangimentos.

Para o partido, é até bom que a festa tenha pouca repercussão, pois o momento não é dos melhores. A esquerda partidária voltou a se movimentar, exigindo o ¿resgate dos compromissos históricos¿. Lançará até candidato a presidente do partido contra José Genoino, na eleição direta de setembro. Os aliados de outros partidos continuam reticentes e o PT precisará deles em 2006. Para reequilibrar a coalizão e dar mostras de que o PT sabe ceder, a reforma ministerial tomará uma ou duas pastas de petistas. E o pior, isso pode nem resolver o problema com alguns partidos.

SEVERINO CAVALCANTI garantiu com Palocci, nas negociações da MP 232, a reivindicação dos caminhoneiros, liderados por Nélio Botelho, o da greve de 2000: ficarão fora do aumento de tributação. Assim como os taxistas, outra categoria protegida pelo presidente da Câmara. Severino saiu dizendo que a MP está quase extinta mas ainda tem muita gente chiando. O PT receia que esta MP venha a representar para o governo Lula o que foi a taxa do lixo para Marta Suplicy.

A FESTA dos 25 anos do PT acabou caindo no dia do aniversário de um grande adversário, o prefeito José Serra. Ontem, quem aniversariava era Marta. E Serra atacou-a com vontade, na reunião de prefeitos em Curitiba.