Título: BOLSA DE SÃO PAULO FECHA EM QUEDA DE 1,75%
Autor: Vagner Ricardo
Fonte: O Globo, 19/03/2005, Economia, p. 32

Expectativa em relação a juros dos Estados Unidos e à ata do Copom influenciou baixa. Dólar cai para R$2,717

A expectativa em relação à agenda econômica cheia da próxima semana levou a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) a registrar forte queda ontem: 1,75%. Segundo analistas, houve um movimento de vendas de ações por investidores, para embolsar ganhos recentes e fugir da forte flutuação de preços esperada para a próxima semana.

Na terça-feira, haverá reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) para possivelmente aprovar nova alta nos juros nos Estados Unidos; e na quinta-feira, divulgação da ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) justificando a nova alta de 18,75% para 19,25% ao ano na Taxa Selic. A elevação dos juros nos EUA reduz o fluxo de capital estrangeiro para países emergentes, por tornar o investimento em títulos americanos mais vantajosos.

O vencimento do mercado de opções na próxima segunda-feira também influenciou o recuo da Bolsa.

¿ O cenário é de grande volatilidade para a Bolsa, que dificilmente conseguirá uma recuperação consistente na próxima semana ¿ disse Alexandre Carneiro, analista da Adinvest.

¿ A tendência é de movimento de venda de ações para embolsar lucros, porque a Bolsa subiu muito rápido ¿ concordou Avelino de Almeida Filho, diretor da empresa de gestão de recursos Lógica do Mercado.

Fluxo estrangeiro impediu queda maior da Bolsa

A queda da Bolsa só não foi maior, segundo analistas, porque os investidores estrangeiros continuaram a comprar ações. Até o dia 15 de março, o saldo externo na Bolsa foi positivo, somando R$896,4 milhões, depois do recorde de fevereiro (inéditos R$3,702 bilhões). Mesmo assim, esses investidores também podem ter vendido ações nos últimos pregões, para embolsar os ganhos ou migrar de ações para títulos atrelados à taxa de juros, depois da nova alta da Selic.

Para Mário Paiva, analista da corretora Liquidez, essa migração de investidores estrangeiros para títulos públicos é um dos motivos para o bom comportamento do dólar comercial em um dia de nervosismo como ontem. O dólar fechou a R$2,717 para venda, em queda de 0,14%, a terceira baixa consecutiva. O fluxo de recursos externos se manteve positivo e o Banco Central não fez leilões de compra no mercado à vista, o que elevou a oferta da moeda.

O C-Bond, título da dívida externa brasileira, chegou a ser negociado abaixo de 100% do valor de face, mas fechou o dia em 100,13%, em queda de 0,11%. O risco-país subiu 1,17%, de 425 para 430 pontos centesimais.

O Índice de Preços ao Consumidor (IPC), medido pela Fipe em São Paulo, ficou em 0,38% na segunda prévia de março. O aumento na tarifa de ônibus na capital paulista (de R$1,70 para R$2) contribuiu com 0,23 ponto percentual, que equivale a 60,5% da inflação. Em março, pelos cálculos do coordenador do IPC, Paulo Picchetti, o índice deve fechar em 0,80%.