Título: AÇÃO PARALELA: EMPRESÁRIOS AJUDAM A POLÍCIA MILITAR, FAZEM DOAÇÕES PARA AS COMUNIDADES E OFERECEM EMPREGOS
Autor: Vera Araújo
Fonte: O Globo, 20/03/2005, Rio, p. 18

Cidade de Deus na mira dos milicianos

Área onde vivem mais de 38 mil pessoas ainda tem tráfico e grupos de PMs querem expulsar os bandidos

A Cidade de Deus é o próximo alvo dos grupos formados por policias militares para tirar o tráfico das favelas. Praticamente o último reduto de traficantes na região de Jacarepaguá e Barra, a Cidade de Deus tem sua própria região administrativa e, de acordo com o Instituto Pereira Passos, há 38.016 moradores vivendo em 120,58 hectares, de acordo com dados de 2000. O diretor executivo da Associação Comercial e Industrial de Jacarepaguá (Acija), Augusto Torres, é um dos que confirmam que a Cidade de Deus é o próximo passo para retomada das áreas conflagradas:

¿ Nós de Jacarepaguá vamos dar um exemplo para o resto da cidade. Vamos mostrar que é possível acabar com o tráfico de drogas. Mas quero deixar bem claro: não apoiamos a ¿mineira¿. Estamos com o 18º BPM (Jacarepaguá).

As cenas de indústrias sendo invadidas por traficantes em fuga, toda vez que a polícia entrava numa favela, se tornam cada vez mais raras. Da mesma forma que os ônibus sendo incendiados, quando ocorria uma morte em confronto nas comunidades. Na semana passada, excepcionalmente, por causa da morte de um rapaz, uma fábrica foi invadida na Cidade de Deus.

¿ Os policiais militares têm mantido a ordem em Jacarepaguá. Por isso, temos doado material de construção para ajudar as famílias carentes a recuperar suas casas destruídas pelos tiros dos traficantes, na Vila Sapê ¿ diz Augusto Torres.

Empresários reformam creches e escolas

No passado, a indústria Fink cedeu uma parte do seu terreno para a construção de uma creche na Vila Sapê, antiga Vila dos Crentes. Mas, com a invasão do tráfico, a creche ficou praticamente abandonada e totalmente depredada, como denuncia o policial que toma conta do local.

¿ A associação era esconderijo de produtos roubados ¿ disse.

Nos últimos meses, com a expulsão do tráfico, os empresários reformaram a creche e estão recuperando a Escola Amiguinhos da Vila Sapê. Para proteger os moradores e evitar que os bandidos se instalem usando as indústrias da região como rota de fuga, a Cirja está instalando portões nos acessos à favela, como num condomínio fechado.

¿ Não podemos deixar que volte a ficar como antes ¿ disse Augusto Torres.

Há o apoio dos empresários também na hora de oferecer empregos. Os moradores de favelas sem tráfico têm prioridade na disputa por vagas numa das fábricas da região:

¿ Tentamos ajudar de todas as formas. Só não damos dinheiro. Já entregamos oito cabines para o batalhão de Jacarepaguá e a nossa meta é de 12 a curto prazo. Já doamos também carros e rádios.

Na Estrada dos Bandeirantes, está sendo implantado o sistema de ronda eletrônica. Os policiais carregam um bastão eletrônico que, em contato com botões fixados em pontos estratégicos, é capaz de armazenar informações sobre a hora e o local da passagem das patrulhas.

Investimentos trazem retorno na segurança

O empenho de empresários, moradores e da polícia tem trazido bons resultados na estatística da criminalidade. Na 32ª DP (Jacarepaguá) e na 41ª (Tanque), delegacias que cobrem a área de Jacarepaguá, houve uma redução do número de roubos de carros, comparando janeiro de 2003 ao mesmo mês de 2004, ano em que os grupos de policiais surgiram. Foram 108 carros roubados em 2003 e 88 no ano passado.

A delegada da 41ª DP (Tanque), Adriana Belém, disse que a redução da criminalidade é o resultado de um trabalho conjunto das polícias com os moradores e empresários de Jacarepaguá. Atualmente, não há praticamente tiroteios nas favelas da região, com exceção da Cidade de Deus.

¿ Nós costumamos brincar que Jacarepaguá tem um policial por metro quadrado. Aqui todo mundo se mobiliza e acredita no trabalho da polícia. Já trabalhei em várias delegacias, mas nunca encontrei um lugar onde tanta gente saísse de sua casa para ajudar a polícia ¿ explicou a delegada, moradora do local.

Tanto para Adriana como para o diretor da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), delegado Rodrigo Oliveira, em Jacarepaguá a única comunidade que ainda tem tráfico é a Cidade de Deus.

¿ Não chega nenhuma denúncia relacionada ao tráfico de drogas nas outras favelas. Há informações de que isso se deve ao trabalho dos policiais que moram nessas comunidades ¿ disse o delegado.

Mas para o comandante do 18º BPM (Jacarepaguá), tenente-coronel César Lima, responsável pelo policiamento ostensivo, na Caicó, formada por cinco pequenas favelas, ainda há venda de drogas.