Título: MULHERES NA CHEFIA MAS LONGE DOS SALÁRIOS
Autor: Cássia Almeida
Fonte: O Globo, 20/03/2005, Economia, p. 35
Instituições terão cinco anos para adequar seus quadros
Mesmo quando alcançam cargos de chefia, as mulheres não conseguem vencer o abismo da desigualdade. Em dois bancos investigados pelo Ministério Público do Trabalho, a maioria dos chefes é feminina, porém isso não se reflete nos salários. Em uma das instituições, elas são 62% do comando, mas o rendimento corresponde a 76,34% do rendimento dos homens. Na outra, onde 59% dos chefes são mulheres, o salário só consegue chegar a 82,87% do ganho masculino:
¿ Há uma sutileza nessa discriminação. Para negar as promoções, dizem que as mulheres preferem se dedicar aos filhos, não podem viajar, são emotivas demais. Quanto às negras, afirmam que não têm o mesmo nível educacional ¿ reclama Neide Aparecida Fonseca, secretária de Política Social da Confederação Nacional dos Bancários (CNB).
Segundo o vice-procurador Otávio Brito Lopes, coordenador do Núcleo de Combate à Discriminação, os bancos terão cinco anos para adequar seus quadros à realidade da força de trabalho da região. O nome dos bancos só será divulgado após o fim da investigação:
¿ Começamos pelo Distrito Federal. A partir de abril a metodologia será aplicada a todas as capitais do país, para investigar a diversidade em cada região. Em novembro, outro setor será investigado ¿ diz Lopes.
Bancos: compromisso ou ação na Justiça
O prazo de cinco anos terá metas anuais. Os bancos poderão assumir o compromisso de aumentar a diversidade na instituição. Se não aceitarem, os procuradores entrarão com ações civis públicas:
¿ Assumido o compromisso, a desobediência acarretará multas pesadas. Não é uma concessão contratar negros e mulheres e permitir a ascensão. É uma obrigação constitucional ¿ explica Lopes.
Segundo a Federação Nacional dos Bancos, será necessário estudar individualmente as exigências do Ministério Público do Trabalho. A entidade afirma que a tardia entrada das mulheres no mercado de trabalho explica sua pouca participação nos principais cargos de chefia. Segundo o Dieese, apenas 12% dos diretores são mulheres. Quanto aos negros, a baixa formação seria a explicação para a sub-representação de pretos e pardos.
O economista da UFRJ Marcelo Paixão, estudioso da questão racial, considerou a medida uma ação afirmativa que, sem impor cotas, dá flexibilidade aos bancos para fazerem as mudanças:
¿ Nas profissões em que se exige contato com o público é que os negros sofrem as maiores discriminações.