Título: DEPOIS DO ULTIMATO, AUDIÊNCIA NO PLANALTO
Autor: Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 22/03/2005, O País, p. 3

Lula chegou a pensar em cancelar audiência, mas acabou recebendo Severino

BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu, no início da noite, o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), que foi pessoalmente ao Palácio do Planalto contar sua versão para o ultimato que dera ao governo mais cedo. Por causa do mal-estar, por muito pouco o PP não foi excluído da reforma ministerial. Lula chegou a analisar com assessores e ministros mais próximos a possibilidade concreta de cortar as negociações com o partido, que indicou o deputado Ciro Nogueira (PI) para o Ministério das Comunicações.

Uma operação de emergência foi montada para apagar o incêndio. Irritado, Lula chegou a ameaçar não receber Severino, o que acabou não acontecendo. Segundo um assessor do presidente, Lula tentaria fechar as pendências para anunciar a reforma ainda hoje.

O ultimato de Severino foi comunicado ao presidente logo depois do discurso em Curitiba. Lula chamou o chefe da Casa Civil, José Dirceu, para saber o que estava acontecendo. Há duas semanas, o partido cobrou um ministério com "porteira fechada", que, no jargão da política, significa ter o poder de nomear todos os cargos da pasta.

¿ Não vou aceitar esse tipo de comportamento. Isso é um absurdo! Ele está pensando o quê? Não aceito ameaças! ¿ teria reagido Lula, segundo relato de interlocutores.

Crise só foi contornada depois que Dirceu conversou com líderes do PP

Somente no início da noite a crise foi contornada, depois que Dirceu conversou com o presidente do PP, Pedro Corrêa (PE), e o líder da bancada, José Janene (PR). Os dois amenizaram as declarações de Severino. Informaram para Dirceu que Severino não quis constranger Lula.

¿ Severino não deu ultimato. Isso é mentira! Ele chegou a falar que apoiaria a reeleição. Foi uma frase tirada do contexto. Falei com Dirceu e expliquei o que aconteceu. Tudo já está normalizado ¿ disse Pedro Corrêa.

¿ Foi um mal entendido. Mas está tudo resolvido. Vamos ficar mesmo com as Comunicações ¿ reforçou Janene.

Após a ação dos bombeiros, Lula decidiu não comentar oficialmente as declarações de Severino para evitar um desgaste maior. O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), respondeu de forma indireta, evitando o confronto e sugerindo que apesar das ameaças, o PP teria o ministério.

¿ Sugestões são bem vindas e serão analisadas, embora existam formas mais elegantes de se fazer isso. A decisão será do presidente da República. Lula foi eleito pelo povo e cabe a ele montar a melhor equipe que achar dentro de um padrão ético. Os partidos têm direito de reivindicar, mas o presidente fará a reforma que considerar melhor para o país.

Ontem, ainda faltava uma solução para a Coordenação Política. Uma saída seria pôr o deputado João Paulo Cunha (PT-SP) na liderança do governo na Câmara. Com isso, o deputado ficaria livre para disputar a convenção que escolherá o candidato a governador em São Paulo em igualdade de condições com Mercadante, que é líder do governo no Senado. Lula chegou a pensar em anunciar a reforma sem resolver essa pendência, adiando a escolha do ministro da Coordenação Política para depois da Semana Santa.

Segundo petistas que se reuniram com o presidente ontem à noite, a pressão era para que a senadora Roseana Sarney (PFL-MA) aceitasse a vaga de Aldo Rebelo no Ministério da Coordenação Política. Mas a família Sarney continua brigando pelo Ministério das Cidades, de Olívio Dutra, auxiliar que Lula estaria agora decidido a não demitir.

COLABORARAM Ilimar Franco, Adriana Vasconcelos e Cristiane Jungblut