Título: ALENCAR: `NOSSO DISCURSO NÃO ASSUMIU O PODER¿
Autor: Sueili Cotta
Fonte: O Globo, 21/03/2005, O País, p. 5

Vice-presidente critica governo e diz que áreas de saneamento, transportes, saúde e educação não avançaram

BELO HORIZONTE. O vice-presidente José Alencar voltou a criticar duramente o governo federal, em entrevista ao jornal ¿Estado de Minas¿. Ele disse que o governo tem adiado ações urgentes em infra-estrutura e sociais e citou as áreas de saneamento e transportes que, em sua opinião, estavam abandonadas no governo passado e continuam estagnadas. O vice-presidente disse que os pontos anunciados na campanha presidencial ainda não saíram do papel.

¿ Nosso discurso de campanha ainda não assumiu o poder ¿ disse o vice-presidente na entrevista.

Segundo Alencar, o governo federal vive um momento de falta de investimentos, um problema que atinge não somente os salários como outras necessidades de diferentes setores da economia e que estão sendo postergadas. Ele destacou que a falta de recursos atinge as estradas de ferro e a recuperação de portos e aeroportos em todo o país.

¿ São coisas urgentes que não estão recebendo financiamento, como é o caso do saneamento básico ¿ afirmou o vice de Lula.

Vice diz que Lula assumiu em situação difícil

Apesar das críticas, Alencar lembrou que quando o presidente Lula assumiu o governo, encontrou uma situação muito difícil. De acordo com o depoimento do vice, não havia investimento em infra-estrutura viária e as estradas estavam abandonadas.

Ele atacou também a falta de investimentos em saúde e educação. Para ele, não houve desde 2002 qualquer aplicação relevante nos dois setores, que poderiam ter sido contemplados se fosse levado em conta o aumento da arrecadação, impulsionado pelas altas taxas de juros.

¿ Não houve obra de recuperação, nada. Por quê? Faltou dinheiro? Não poderia ter faltado ¿ criticou o vice-presidente, que atacou também o governo Fernando Henrique Cardoso.

Segundo ele, parte da culpa pela falta de investimento vem da gestão do PSDB que aumentou as taxas de juros mas não investiu onde deveria. Mas o vice-presidente admitiu que não há avanços no governo do qual faz parte.

As altas taxas de juros continuam um problema, na avaliação do vice-presidente, que defende um rompimento com as convenções e propõe uma revolução para retomar o crescimento. Se não houver uma mudança radical, o vice-presidente diz que o país estará liquidado.

¿ Entre todos os países civilizados, o Brasil é o único que adota essa política monetária... O país está liquidado com essa taxa de juros. Não podemos continuar assim ¿ reclamou Alencar ¿ Não há taxas de juros no mundo capazes de combater esse tipo de inflação.

Alencar, que completa 74 anos em outubro, não sabe se será convidado a disputar um segundo mandato com o presidente Lula. Mas não descarta a possibilidade de participar da disputa no ano que vem. Se o PL o apoiar, o vice-presidente disse que pode ser candidato a deputado estadual, deputado federal, senador, governador e até a presidente da República.

Alencar não descarta disputar reeleição em 2006

Alencar disse que para voltar a compor uma chapa com o presidente Lula precisaria primeiro ser convidado, e o assunto até agora não foi tratado pelo presidente:

¿ Jamais tomarei a iniciativa de perguntar ao presidente se ele vai me convidar ¿ afirmou Alencar.

O vice afirmou que não tem como lançar sua candidatura a qualquer cargo porque está no governo. As possibilidades devem ser tratadas no ano que vem e a sua participação na chapa pode ser condicionada, segundo afirmou na entrevista, a mudanças na política econômica.