Título: DÍVIDA EXTERNA BRASILEIRA É A MENOR DESDE 1997
Autor: Enio Vieira
Fonte: O Globo, 22/03/2005, Economia, p. 25

Governo e setor privado deviam US$201 bi em dezembro de 2004, US$13,5 bi a menos que no ano anterior

BRASÍLIA e WASHINGTON. A dívida externa brasileira caiu US$13,556 bilhões em 2004, principalmente devido à decisão das empresas privadas de reduzir o endividamento em moeda estrangeira. O estoque da dívida ¿ que inclui governo e setor privado ¿ caiu de US$214,930 bilhões em dezembro de 2003 para US$201,374 bilhões no fim de 2004. Esse foi um dos motivos para a maior solidez dos indicadores de solvência do Brasil no ano passado, que são os melhores desde a década de 1970, divulgou ontem o Banco Central (BC).

O estoque da dívida atingiu em 2004 o menor nível desde os US$199,997 bilhões de dezembro de 1997, um ano antes de o Brasil assinar acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), renovado seguidamente.

¿ As boas condições das contas externas propiciam uma redução da dívida, com as empresas captando menos recursos e amortizando mais suas dívidas. Assim melhoram os indicadores externos da economia brasileira ¿ explicou o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.

Essa queda da dívida externa se aliou ao aumento das exportações para resultar, no ano passado, na melhoria expressiva de indicadores que influenciam o risco-Brasil (taxa calculada pelo banco JP Morgan que mede a confiança de investidores estrangeiros no país). Esses indicadores mostram a capacidade do país de suportar uma interrupção de financiamento externo (empréstimos e investimentos), como ocorreu em 1997 e em 2002.

Em dezembro de 2004, a relação entre dívida e exportações ficou em 2,1, que foi o menor número desde 1970. Isso significa que a dívida representa pouco mais que o dobro do que o país arrecada em dólares anualmente com a venda de produtos no exterior. No fim de 2003, o indicador era de 2,9 e, em 2000, estava em 3,9. Já as despesas com juros consumiam 72,5% das exportações em 2003 e caíram para 53,8% em 2004.

¿ Os países que têm grau de investimento e são bem avaliados pelas agências de risco mantêm uma relação de um para um entre dívida externa e exportação. Esse deveria ser um objetivo do Brasil ¿ afirmou Antônio Corrêa de Lacerda, presidente da Sociedade Brasileira de Estudos e Empresas Transnacionais (Sobeet).

FMI aprova revisão de acordo com o Brasil

A dívida externa de médio e longo prazos (acima de um ano) do setor privado baixou de US$74,950 bilhões, em dezembro de 2003, para US$67,918 bilhões em dezembro de 2004. Já a do setor público de médio e longo prazos caiu de US$119,785 bilhões em dezembro de 2003 para US$114,712 bilhões em dezembro de 2004, devido principalmente aos pagamentos ao FMI. Mas o peso da dívida externa está no pagamento de US$15,1 bilhões anuais de juros e na necessidade de renovação a cada ano de US$29,9 bilhões com novos empréstimos.

Ontem, o FMI completou a décima e última revisão do programa de US$42,1 bilhões firmado com o Brasil em setembro de 2002. Dos US$42,1 bilhões, o Brasil retirou US$26,4 bilhões, segundo o FMI. Desde setembro de 2003, o país não saca dinheiro do Fundo.

COLABOROU: José Meirelles Passos, correspondente