Título: UMA DECISÃO CADA VEZ MAIS COMUM
Autor:
Fonte: O Globo, 22/03/2005, O Mundo, p. 32
Suicídio assistido por médico se dissemina entre pacientes terminais nos EUA
NOVA YORK. Numa reunião de família no Dia das Mães do ano passado, Andrew Turner Jr. anunciou:
¿ Esta é minha última refeição.
Aos 73 anos, sofrendo de câncer e passando por tratamentos que lhe causavam grande desconforto e não traziam qualquer melhora. Turner já perdera 59 de seus 95 quilos.
¿ Ele já não podia fazer nada do que gostava ¿ diz sua viúva, Pat.
Turner afirmou à família que seu tubo de alimentação seria retirado e que ele passaria a recusar tratamento e alimentos.
¿ Se vocês quiserem fazer algum comentário sobre isso, eu os ouvirei, mas esta é a minha decisão ¿ disse.
Cinco semanas depois, ele morria em paz em sua cama.
Enquanto o Congresso se agarra ao caso de Terri Schiavo e uma batalha nacional é travada para que se decida se leis devem permitir a médicos ajudar pacientes terminais a pôr fim a suas vidas, uma silenciosa revolução está acontecendo nos EUA. Com ou sem tais leis, muitos americanos estão tomando atitudes em relação à própria vida, alguns com ajuda de médicos, outros em iniciativas pessoais que tornam nebulosa a definição de suicídio.
Não há números precisos sobre quantos americanos pedem, a cada ano, para seus médicos os ajudarem a pôr fim à própria vida e, em pesquisas, o apoio a essa prática varia dependendo de como a pergunta é feita. Mas pesquisas sugerem que mais da metade dos americanos considera o suicídio assistido por médicos moralmente aceitável. Numa delas, feita no ano passado pelo Instituto Gallup, 65% concordaram que um médico deve ter permissão para assistir um suicídio ¿quando uma pessoa tem uma doença que não pode ser curada e vive no sofrimento¿. Em 1996, 52% haviam concordado.
Especialistas dizem que o apoio ao suicídio assistido deve aumentar, uma vez que os baby boomers (membros da geração do pós-guerra) estão há muito tempo acostumados a tomar decisões sobre suas vidas e exigem também o direito de tomar decisões sobre sua morte.
¿ Estamos falando de uma geração que quer um grau de controle ¿ diz Diane Meier, professora de ética médica na Escola de Medicina Monte Sinai, em Nova York.
Muitas pessoas permanecem contra o suicídio assistido por médicos, freqüentemente por motivos morais ou religiosos. A lei de suicídio assistido do Oregon (o único estado que o permite) está sendo questionada pelo governo Bush na Suprema Corte. Mas até mesmo seus opositores reconhecem que a aceitação parece estar aumentando.
¿ As pessoas com certeza estão mais abertas em relação a isso ¿ afirma o rabino Leonard Sharzer, médico e especialista em bioética do Seminário Teológico Judeu, em Nova York, que se opõe ao suicídio assistido por motivo religioso.
Mesmo no Oregon muito poucas pessoas optam por apressar a morte por meio de remédio. Nos sete anos em que a lei está em vigor, 208 doentes terminais do estado o fizeram. Fora do estado, estudos sugerem que um em cada cem doentes terminais nos EUA pede o que chamam de ¿uma morte boa¿, ou considera seriamente pedir.