Título: BUSH INTERVÉM PARA MANTER TERRI VIVA
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Fonte: O Globo, 22/03/2005, O Mundo, p. 32

Presidente assina lei e força Justiça federal a analisar caso de eutanásia

MIAMI, Flórida

Numa atitude sem precedentes, o presidente George W. Bush assinou na madrugada de ontem uma lei de emergência para permitir que seja religado o tubo de alimentação que permite a Terri Schiavo viver. Com a lei, forçou um tribunal federal a analisar o caso da americana de 41 anos que vive há 15 em coma, e que há quase uma década é alvo de uma disputa legal entre seu marido ¿ que luta para permitir sua morte ¿ e seus pais, dispostos a mantê-la viva. Ao fim de duas horas de audiência, o juiz James Whittemore não anunciou, porém, qualquer decisão, apesar da grande expectativa em torno do caso, já que o aparelho foi desligado sexta-feira, e Terri poderia morrer a qualquer momento.

¿ Não vou dizer onde, como ou quando será (a decisão) ¿ disse Whittemore.

Advogado dos pais de Terri, David Gibbs reagiu:

¿ Se este tribunal não agir rapidamente, todo o processo será em vão, porque Terri morrerá. Não há muito tempo.

O caso estava na esfera da Justiça estadual da Flórida, mas domingo deputados interromperam o recesso de Páscoa para aprovar a lei, por 203 votos a 58. Os únicos três senadores presentes os apoiaram. Bush, que estava no Texas, também interrompeu o feriado e assinou a lei à 1h11m (hora local). Logo os pais de Terri apresentaram o caso a uma corte federal na Flórida. Sexta-feira, o Congresso já tentara impedir a morte de Terri, mas o juiz que autorizara a eutanásia manteve a decisão, segundo a qual a doente não tem emoção, nem raciocínio.

¿ Hoje promulguei uma lei que permitirá às cortes federais ouvir um pedido de ou em nome de Terri Schiavo, por violação de seus direitos relacionada à retirada de alimentos, líquidos ou de tratamento médico necessário para mantê-la viva ¿ afirmou Bush.

O presidente disse ainda:

¿ Democratas e republicanos se reuniram no Congresso para dar aos pais de Terri Schiavo outra oportunidade para salvar sua vida. Este é um caso complexo com questões sérias. Mas em circunstâncias extraordinárias como essa, é sábio errar do lado da vida.

O marido de Terri, Michael, criticou Bush:

¿ Este é um dia triste para Terri e para todos nos EUA, porque o governo está se metendo em assuntos pessoais e privados. O que está acontecendo devia deixar cada cidadão dos EUA amedrontado ¿ afirmou.

Michael acrescentou:

¿ Não há qualquer dúvida (legal) aqui. Bush deveria se envergonhar de si mesmo.

Vários democratas consideraram que a lei é uma exploração política de uma tragédia familiar e mina a autoridade dos tribunais da Flórida, bem como os direitos dos estados.

Já o Vaticano, em artigo no ¿L¿Osservatore Romano¿, condenou remoção do aparelho. ¿Quem pode, diante de Deus ou diante dos homens, pretender impunemente conceder-se o direito de decidir sobre a vida e a morte de uma criatura humana?¿, perguntou.

À tarde, enquanto o juiz analisava o pedido dos pais de Terri para religar o aparelho, uma ambulância permanecia em frente à clínica onde a doente vive, para levá-la a um hospital, caso o pedido fosse aceito. Em quase oito anos de briga judicial, o aparelho já foi desligado e religado duas vezes, devido a decisões legais. Uma pesquisa da TV ABC News mostrou ontem que 70% dos americanos desaprovam a intervenção do Congresso no caso, que 67% acreditam que deputados o estão usando com objetivos políticos e que 63% aprovam a remoção do aparelho.