Título: LUÍS BITENCOURT `A proposta dá respaldo maior ao Brasil¿
Autor: Eliane Oliveira
Fonte: O Globo, 22/03/2005, Economia, p. 33

A proposta de reforma da ONU apresentada por seu secretário-geral, Kofi Annan, contém aspectos que favorecem a entrada do Brasil no seu Conselho de Segurança. Isso, no entanto, ocorreria num contexto diferente: o país participaria de uma ¿segunda categoria¿ de membros, com direito a opinar e influenciar, mas sem direito a veto, afirma o cientista politico brasileiro Luís Bitencourt, diretor do Projeto Brasil, no Woodrow Wilson Center em Washington.

Qual a sua expectativa em relação à proposta de Kofi Annan?

LUÍS BITENCOURT: Ele a fez através de um conceito mais amplo e que legitima a pretensão do Brasil. Ela está em sintonia com o governo Lula, pois coloca o combate à fome e à miséria como fatores significativos. O ideal agora é vender isso aos Estados Unidos dentro do mesmo conceito de liberdade defendido pelo presidente George W. Bush. No fundo esse programa de promover a liberdade em todo o mundo, que ele está imprimindo, é uma espécie de Fome Zero de Bush. Quem não tem liberdade e quem sente fome sabe o que isso significa.

As chances do Brasil melhoraram, então?

BITENCOURT: Esta é uma antiga aspiração brasileira, que o governo Lula assumiu de forma mais aberta, mais declarada. A proposta de Annan dá um respaldo maior ao Brasil, que tem uma grande capacidade de mediação internacional. Como não tem poder militar, o país tem que defender essa idéia de Annan de ampliar o conselho sob um novo enfoque: do soft power (poder suave).

O poder do Brasil dentro do conselho seria igual ao dos seus atuais membros?

BITENCOURT: Receio que a conclusão acabe sendo a de criar uma segunda categoria de membros: a dos países que não têm poder militar. Estes não teriam poder de veto. Qual a vantagem? É simbólica. Mas tem um simbolismo importante. O Brasil passaria a influenciar diretamente a discussão de temas globais. Resta saber se o país está pronto para assumir os custos desse posto. Afinal, com isso terá de se engajar em decisões delicadas, controvertidas, sem chance de ficar em cima do muro.