Título: MUDANÇAS CLIMÁTICAS AMEAÇAM ACABAR COM O PANTANAL
Autor: Ana Lucia Azevedo
Fonte: O Globo, 22/03/2005, Ciência e Vida, p. 34

Estudo da ONU estima que até 85% das áreas úmidas da Terra desaparecerão se planeta continuar a esquentar

O Pantanal nunca esteve tão ameaçado. Num alerta que será divulgado hoje, Dia Mundial da Água, pesquisadores brasileiros e da Universidade das Nações Unidas destacam o fato de que as áreas úmidas do planeta estão entre as mais vulneráveis às mudanças climáticas associadas ao aquecimento global. E o Pantanal, a maior de todas as regiões alagadas, seria uma das mais vulneráveis do mundo, sofrendo ainda com problemas específicos, como o assoreamento e a contaminação dos rios por agrotóxicos.

Expansão do agronegócio ameaça ecossistema

Estima-se que 85% das áreas úmidas da Terra poderão desaparecer, caso as previsões sobre o aquecimento global para as próximas décadas se concretizem.

¿ O Pantanal sofre ameaças globais, as mudanças climáticas, e locais, principalmente a expansão do agronegócio nas regiões do planalto às quais as áreas pantaneiras estão profundamente associadas ¿ explica, por telefone de Cuiabá, Paulo Teixeira, diretor do Programa Ambiental Regional do Pantanal, ligado à Universidade das Nações Unidas, e pró-reitor de pesquisa da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT).

O programa é uma rede de pesquisa integrada por cientistas do Brasil, da Bolívia e do Paraguai, os três países por onde se espalha o bioma. Na época das cheias, o Pantanal compreende uma área de 165 mil quilômetros quadrados, um dos ecossistemas com maior biodiversidade da Terra. Além de centenas de espécies de peixes e aves, o Pantanal abriga ainda alguns dos mamíferos mais ameaçados de extinção do Brasil, como a onça pintada, o veado pantaneiro e a anta.

¿ Ainda se sabe pouquíssimo sobre o Pantanal. O objetivo dessa rede de pesquisa, apoiada pela ONU, é justamente oferecer subsídios aos governos de Brasil, Bolívia e Paraguai para que possam proteger de forma eficiente esse ecossistema ¿ diz Teixeira.

O cientista observa que o impacto da expansão da agricultura nas regiões contíguas ao Pantanal já é sentido em rios do ecossistema.

¿ Os efeitos da agricultura em larga escala no planalto são bem visíveis em rios importantes do Pantanal. É o caso dos rios São Lourenço e Vermelho, no Mato Grosso, e Taquara e Miranda, no Mato Grosso do Sul. Eles sofrem dos dois principais males associados à agricultura intensiva, o assoreamento e a contaminação por agrotóxicos ¿ frisa o cientista.

No estudo apresentado hoje, os cientistas destacam o fato de que o Pantanal presta importantes serviços ambientais. Ele armazena e purifica imensas quantidades de água doce. Além disso, contribui para evitar grandes tempestades e influencia o clima local, ao regular o regime de chuvas e a temperatura.

¿ Há uma série de ameaças. Além da agricultura, o Pantanal também tem sofrido com a mudança do padrão da pecuária. O gado pantaneiro, bem integrado ao ecossistema, tem dado lugar à pecuária praticada no restante do país. O resultado é que na época da seca, a região do Pantanal se tornou mais vulnerável a incêndios. O Pantanal vinha se mantendo a salvo de eventos climáticos extremos registrados em outras partes do país, mas hoje sabemos que isso vai acabar ¿ observa Teixeira.

Segundo ele, é fundamental que os governos brasileiro, paraguaio e boliviano trabalhem juntos para salvar o Pantanal.