Título: STIGLITZ CRITICA INDICAÇÃO DE WOLFOWITZ PARA O BIRD E PEDE VETO DE EUROPEUS
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Fonte: O Globo, 21/03/2005, Economia, p. 18

Prêmio Nobel sugere nomes como o de Armínio Fraga para comandar banco

LONDRES. A designação pelo governo dos EUA do número dois do Pentágono, Paul Wolfowitz, para presidir o Banco Mundial (Bird) é um ato de provocação, que pode desembocar em ações violentas no mundo em desenvolvimento, segundo o americano Joseph Stiglitz, vencedor do Prêmio Nobel de Economia de 2001.

Em declarações dadas à emissora de TV britânica ¿Channel 4¿, reproduzidas ontem pelo jornal ¿Sunday Telegraph¿, Stiglitz disse que o Bird se converterá em alvo do ódio de muitos, o que trará ¿protestos de rua e violência¿ e conclamou os europeus a vetarem a nomeação.

`Papel desenvolvimentista ficaria comprometido¿

¿ Minha preocupação é que o Bird se torne um instrumento explícito da política externa dos EUA. Assim, seguramente assumiria um papel de destaque na reconstrução do Iraque. E isso pode pôr em risco seu papel de organismo multilateral de desenvolvimento ¿ afirmou Stiglitz, que foi economista-chefe do Bird na gestão de James Wolfensohn.

Para o Nobel, as políticas mais moderadas do Bird nos últimos anos e o fato de ter centrado seu foco no desenvolvimento deram à instituição muito mais respeito no mundo emergente. Uma rejeição ao banco, advertiu Stiglitz, poderia pôr tudo a perder.

Para Stiglitz, nomeação é exercício de poder dos EUA

Ainda que as opiniões de Wolfowitz sobre desenvolvimento continuem vagas, sua nomeação tiraria a credibilidade do Bird entre as nações mais pobres. Segundo Stiglitz, com Wolfowitz e John Bolton como embaixador na ONU, os EUA ¿querem demonstrar que fazem o que lhes passa pela cabeça¿:

¿ O melhor modo de conservar o poder é exercê-lo e essa nomeação é uma demonstração de exercício do poder.

Para Stiglitz, à frente do Bird deveria haver alguém ligado ao desenvolvimento e que conheça os emergentes. Sugeriu nomes como os de Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central do Brasil; Ernesto Zedillo, ex-presidente de México; e Kemal Dervis, ex-ministro de Finanças da Turquia. Todos, diz, são economistas de primeira classe, respeitados no mundo.