Título: JUIZ TERIA SIDO MORTO A MANDO DE COLEGAS
Autor: Rodrigo Rangel
Fonte: O Globo, 24/03/2005, O País, p. 10

Alexandre Martins de Castro Filho investigava venda de sentenças em fórum do Espírito Santo

BRASÍLIA. Pelo menos dois juízes do Espírito Santo estão sendo investigados por suspeita de terem encomendado o assassinato do também juiz Alexandre Martins de Castro Filho, executado há dois anos em Vila Velha, Região Metropolitana de Vitória. Entre os motivos da execução estaria uma investigação iniciada por Martins para apurar denúncias de venda de sentenças no fórum da capital capixaba.

Alexandre Martins foi morto em março de 2003 com três tiros. Ele integrava a força-tarefa incumbida de combater o crime organizado no estado. Os dois executores do crime estão presos e condenados a mais de 20 anos de prisão, mas o inquérito que investiga os mandantes ainda está aberto.

Testemunha viu membro do Judiciário pagar criminoso

Ontem, véspera do segundo aniversário da morte do juiz, o secretário de Segurança Pública do Espírito Santo, Rodney Miranda, anunciou que as investigações estão centradas no próprio Judiciário. Por envolver juízes, o caso terá de ser remetido para o Tribunal de Justiça do estado, como manda a lei orgânica da magistratura.

¿ Isso deverá acontecer em breve. Só estamos robustecendo as provas ¿ disse o secretário.

A conclusão de que a execução foi encomendada por colegas de Alexandre Martins está fundamentada em documentos e depoimentos de testemunhas. Uma delas disse ter visto, no dia do crime, um integrante do Judiciário entregar dinheiro aos dois executores.

Ao menos dois juízes teriam encomendado a execução, mas outros funcionários do Judiciário podem ter participação. Ousado, Alexandre Martins tinha inimigos dentro e fora do Judiciário. Ele foi responsável por decisões que desafiaram a chamada máfia capixaba e investigava a ligação de magistrados com o crime organizado do estado.

Comissão da Câmara pede que crime seja federalizado

Ontem, a presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, Iriny Lopes (PT-ES), pediu ao procurador-geral da República, Cláudio Fonteles, a federalização das investigações. Para a deputada, o ritmo das investigações feitas pela Polícia Civil do Espírito Santo não está a contento, devido ao que ela classifica de falta de interesse das autoridades estaduais para ver o caso elucidado.

¿ Esse crime não pode ficar na galeria dos insolúveis. Os policiais envolvidos na investigação precisariam estar integralmente por conta do caso, com um amplo aparato de inteligência ¿ disse a petista.