Título: PEIXE MAIS CARO NA PÁSCOA
Autor: Ledice Araújo
Fonte: O Globo, 24/03/2005, Economia, p. 19

Produção de pescado no Rio cai 14% em três anos e preço sobe. Alta este ano é de 11%

A produção de pescado no Rio de Janeiro caiu 14% em três anos. Passou de 70 mil para 60 mil toneladas e o reflexo da redução da oferta bateu direto no bolso do consumidor. Os que mantêm a tradição do peixe na Semana Santa enfrentam este ano preços com aumento médio de 11,2%, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), apurado pelo IBGE no primeiro bimestre.

O quilo da corvina de linha, espécie mais vendida no mercado fluminense, custava em média R$4,50 no ano passado e hoje está por R$5 em média. Com as ofertas de última hora, é encontrada por até R$3,89. Já os peixes nobres, cuja produção é mais escassa, registram preços bem mais altos. O badejo, negociado inteiro a R$15 no mercado atacadista da Ceasa, chega ao varejo em posta por R$23 a R$45. O cherne sai por R$15 no atacado e por R$27 (inteiro) e até R$69 (em filé) em peixarias do Leblon.

¿ Com os preços do peixe desse jeito, preferi comprar bacalhau para a Páscoa. Pelo menos rende mais e as ofertas são melhores nos supermercados ¿ disse a dona de casa Terezinha Maria, da Tijuca.

Rio consome mais que média nacional

Pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), também do IBGE, o preço do peixe ficou bem mais salgado que o dos outros tipos de carnes. Em pouco mais de dez anos ¿ desde a implantação do real, em julho de 1994 ¿ o pescado encareceu 287,66%, enquanto a inflação no período acumulou 183,11%. Já a carne bovina subiu 145% e o frango, 147%. No ano passado, o preço do pescado subiu 9,25%; o da carne, 4,87%; e o do frango teve deflação de 0,26%.

Na corrida pela conquista de clientes que deixam para comprar na última hora, os supermercados reduziram os preços de várias espécies. A festa é do salmão chileno ou nacional, oferecido a R$11,90 no Carrefour do NorteShopping. A corvina fresca baixou para R$3,89 no Extra e quem preferir anchova, leva por R$5,99 no Pão de Açúcar.

Mesmo com os aumentos, o consumo per capita de peixe no Rio continua bem acima do nacional. São 26 quilos por habitante ao ano, contra 8,2 quilos no país. A produção extrativa brasileira de pescado registrou o pequeno recuo de um milhão para 990 mil toneladas de 2003 para 2004. Mas, com a conscientização maior sobre as vantagens protéicas do peixe em relação à carne, o consumo melhorou: de 7,8 para 8,2 quilos por habitante/ano no período. É muito baixo, considerando a extensa costa de 8.500 quilômetros do país. O Japão consome cerca de 60 quilos e Espanha, 30.

A produção por cultivo (em lagos, por exemplo) ainda é pequena, mas é a que vem apresentando melhor desempenho: passou de 280 mil para 320 mil toneladas de 2003 para 2004. Os planos de incentivo aos pescadores e pregoeiros elaborados pela Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca (Seap, ligada à Presidência da República) ¿ para renovação e modernização da frota pesqueira ¿ devem contribuir para o crescimento da oferta e, com isto, a redução do custo. O investimento previsto é de R$2 milhões, que começam a ser liberados este ano

¿ O consumo de peixe é baixo porque a produção vem caindo e o preço subindo. Além disso, temos a cultura do brasileiro que prefere comer carne bovina ¿ explicou Jayme Tavares, chefe do escritório fluminense da Seap, lembrando que o Rio já foi o maior produtor e hoje está em terceiro lugar.

Ele acredita que este cenário pode melhorar, com a renovação dos barcos para pesca oceânica e a construção de entrepostos pesqueiros, em Macaé, Arraial do Cabo, Saquarema e Caju, que facilitarão o armazenamento e a venda para o varejista.

Apesar da redução geral da produção, os pregoeiros estão otimistas com a melhoria do movimento no mercado da Ceasa. A expectativa é vender cerca de 1,3 mil toneladas nesta Semana Santa, quatro vezes mais que o normal, segundo estimativa de Francisco Tomaso, presidente da Associação dos Pregoeiros do Estado do Rio (Apaerj).

Mas o abastecimento do entreposto (cerca de 80%) é garantido pelas remessas congeladas vindas dos estados do Sul. Este ano, houve produção maior de corvina e sardinha, peixes que mais chegam de Cabo Frio e Angra dos Reis.

¿ Os preços estão no mesmo patamar de 2004. O ajuste foi o da inflação. Já os peixes capturados longe da costa ficaram mais caros, devido aos custos da produção, sobretudo o do óleo diesel, que subiu 35% ¿ disse Tomaso.