Título: BC ERROU AO ELEVAR JUROS E DEVE DESISTIR DA META DE INFLAÇÃO DE 5,1%, DIZ FIESP
Autor: Wagner Gomes
Fonte: O Globo, 24/03/2005, Economia, p. 20

Para entidade, taxa perseguida para 2005 é `ambiciosa e desnecessária¿

SÃO PAULO. A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) defendeu que o Banco Central (BC) deixe de perseguir a meta de 5,1% de inflação para este ano. Para a entidade, o Comitê de Política Monetária (Copom) errou ao aumentar os juros básicos da economia, a Taxa Selic, em 3,25 pontos percentuais, de 16% para 19,25% ao ano, entre setembro de 2004 e março deste ano. Num estudo divulgado ontem, a Fiesp argumenta que o principal objetivo da elevação, que era arrefecer a demanda por desestímulo ao crédito, não foi atingido até o momento.

¿ A meta de inflação do BC para 2005 é ambiciosa e desnecessária ¿ afirmou Paulo Francini, diretor do Departamento de Economia da Fiesp.

Segundo a Fiesp, a alta do IPCA, que serve como referência para o sistema de metas de inflação, era pequena antes de o juro começar a subir em setembro. O IPCA flutuava em torno da média histórica de 0,59% ao mês. A variação de julho, agosto e setembro foi de 0,91%, 0,69% e 0,33%, respectivamente. Para os preços monitorados, a variação foi de 1,89%, 0,92% e 0,59% e para os preços livres, 0,52%, 0,60% e 0,22%.

Não havia pressão de preços livres, afirma o estudo

Na média do trimestre, os preços livres já haviam convergido para a média histórica de 0,47% ao mês. Portanto, segundo a Fiesp, não havia pressão dos preços livres, enquanto os monitorados tinham média de 1,13% ao mês, superior ao histórico de 0,98% mensal. Para a Fiesp, o BC não deveria ser muito firme com a meta de inflação e, no máximo, deveria observar a trajetória do IPCA.

Segundo Francini, outro erro é a alegação dos técnicos do BC de que a massa salarial vinha crescendo, com o aumento no emprego com carteira assinada. Para Francini, há apenas uma substituição de trabalhadores da economia informal, por um esforço do próprio governo federal.

¿ A alta dos juros ganhou imunidade, como um corpo que precisa de mais antibiótico por excesso de uso do remédio. Não havia necessidade de controlar a demanda em setembro do ano passado. Não concordamos com a decisão do BC, que foi incompetente. Não precisava intervir, pois a economia brasileira caminhava para uma taxa de crescimento sem grandes sobressaltos ¿ disse Francini.

O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, não falou em incompetência do BC, mas disse que houve excesso de precaução.